sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Mudança no formato do exame final

Após reflexão e motivado por uma elaborada crítica ao método de avaliação por um estudante, faço a seguinte mudança no formato do exame final:

Quem quiser poderá trazer material de consulta, como fichamento dos textos e rascunhos de respostas às perguntas. Não serão permitidas consultas aos textos.

Por favor, distribuam a informação entre vocês. Repassei por correio eletrônicos aos grupos das turmas, mas imagino que haja pessoas de fora.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Exame final: segunda leva de perguntas


Segue a segunda lista de perguntas para o exame final. No dia 10, serão selecionadas quatro das vinte perguntas para a prova. Bons estudos!

Sobre cada um dos pares de visões teóricas alternativas (perguntas 1 a 4), (a) apresente de modo sucinto os argumentos centrais de cada alternativa teórica; (b) discuta semelhanças e diferenças entre as alternativas; (c) brevemente argumente a favor da alternativa que lhe parecer mais apropriada (ou as duas, se achar que ambas são válidas), destacando de que modo contribuem para explicar fenômenos sociais e políticos recentes.

11. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a noção de sujeito na teoria de Simone de Beauvoir e na da teoria das bases materiais da desigualdade de gênero (textos de referência de Saffioti e Kergoat).

12. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a desigualdade de gênero em relação a outras formas de opressão na teoria de Simone de Beauvoir e a visão intersecional das dinâmicas de opressão (textos de referência de Kerner e Wright).

13. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a cidadania concedida (texto de referência de Sales) e o processo de descidadanização (texto de referência de Kowarick).

14. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a consolidação do governo petista a partir de uma nova classe de gerenciamento do capitalismo global (texto de referência de Oliveira) e o realinhamento eleitoral a partir da estrutura de classe, em especial o subproletariado (texto de referência de Singer).

15. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a burocracia na perspectiva weberiana e na perspectiva gerencial (texto de referência de Bresser-Pereira).

16. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a política como vocação (texto de referência de Weber) e o quinto poder (texto de referência de Ianoni).

17. Conforme o "ranking" de "Abismo de Gênero" do Fórum Econômico Mundial (2014), o Brasil ocupa a 71ª posição, numa tabela com 142 países. O relatório ainda projeta que, caso se mantenha a trajetória mundial, a igualdade entre homens e mulheres no mundo será alcançada apenas em 2095. De acordo com o vice-presidente do Departamento de Redução da Pobreza e Gestão Econômica do Banco Mundial, “Além de moralmente condenável, manter a desigualdade de gênero é uma estupidez econômica”, pois, “O crescimento econômico de um país pode ser maior se for acompanhado de políticas de eliminação das desigualdades de gênero”, afirmou Otaviano Canuto.
Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo (1949) escreveu que: "não se nasce mulher, torna-se mulher". Expressou, assim, a ideia básica do feminismo: a desnaturalização do ser mulher. Numa mesma linha interpretativa, para a pesquisadora brasileira Heleieth Saffioti, as características naturais, sexo e raça, atuam como mecanismos de desvantagem no processo competitivo, sendo conveniente para conservar a estrutura de classes, existindo um nó que amarra classe, gênero e raça e que constrói as dinâmicas de desigualdade na sociedade contemporânea.
Em que medida a emancipação econômica feminina seria suficiente, ou não, para libertar a mulher dos preconceitos que a discriminam socialmente, à luz das teorias de Beauvoir, Saffioti e Kergoat?

18. Quem fiscaliza o poder? A mesma pergunta é pertinente para a definição de Estado em Weber e de quarto poder em Ianoni. (a) Em que medida o Estado e a mídia precisam ser fiscalizadas, de acordo com esses autores?; (b) o que cada um deles sugere como mecanismo de fiscalização?; e (c) em que medida essas sugestões se assemelham e diferenciam (por exemplo, a configuração democrática das propostas)?

19. A defesa do Estado é um elemento central da cultura política brasileira, de acordo com Alberto Carlos Almeida. (a) Defina o Estado na perspectiva de Bobbio; (b) apresente e problematize a partir dessa perspectiva aquilo que o brasileiro parece defender na forma do Estado; (c) identifique a partir da leitura de Bresser-Pereira pontos negativos na atuação do Estado e possíveis soluções a esses pontos negativos.

20. Sales e Kowarick apresentam de forma distinta a origem do problema social brasileiro. Ela remonta ao período colonial e à experiência escravagista para explicar o funcionamento da vida em sociedade no Brasil. Sem refutar o argumento histórico de Sales, ele põe o foco nas dinâmicas da formação do capitalismo, em que a modalidade de inclusão, falha e incompleta, fez com que a experiência social se tornasse a do “viver em risco”. Reconstrua em detalhe o argumento e as evidências desses autores. Apresente a relação desses textos mais densos com a análise mais conjuntural das eleições recentes (Singer) e da cultura política brasileira (Almeida). Discuta no escopo do argumento de Kowarick e Sales possíveis direções para resolver a questão social brasileira.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Exame final: informe


Há pelo menos duas motivações relacionadas ao exame final. A primeira é obviamente dar uma oportunidade de recuperação aos/às estudantes que não atingiram sete de média no agregado dos quatro bimestres. Pelo que entendo, a nota que tirarem no exame final é somada à do agregado dos quatro bimestres e esta some é então dividida por dois. Se o resultado for igual ou superior a seis, vocês são aprovados na disciplina. Para maiores informações, verifiquem o “Manual do Aluno 2014”, aqui

A segunda motivação diz respeito à oportunidade que lhes é oferecida de aprofundar o conhecimento específico dessa matéria, num período especial, em que colocam novo alento e têm tempo para canalizar mais esforços no conteúdo abordado. Para o exame final, a expectativa é então que consigam dedicar-se e a expectativa dessa dedicação é base do que será cobrado.

O exame final da disciplina de Ciência Política no curso de Jornalismo cobre o material visto durante todo o ano letivo de 2014. A referência para recuperar o material são os documentos publicados no blog do curso: http://cienciapoliticacasperlibero.blogspot.com.br/.

O que será cobrado na avaliação é: (1) sua capacidade de apresentar o argumento dos autores vistos na disciplina; e (2) sua capacidade de indicar no escopo do argumento desses autores problemáticas a serem desenvolvidas. Nesse sentido, é uma prova que exige conhecimento avançado da matéria e disposição analítica elevada. O foco deve ser colocado nas leituras obrigatórias e sugeridas no decorrer do ano letivo: por mais que outros autores possam ser mobilizados para responder as questões do exame final, o que efetivamente será levado em consideração na correção é sua utilização dos autores vistos na disciplina.

Não é relevante que decore os nomes dos autores e textos. O que importa é que entenda suas teorias, o modo como as justificam e corroboram, sua estratégia argumentativa e metodologia, a relevância de sua contribuição.

A proposta dessa avaliação é a seguinte: divulgarei duas listas de dez questões diretamente relacionadas ao conteúdo visto durante o ano letivo. A primeira leva de perguntas está abaixo. A segunda leva de perguntas será divulgada em 3 de dezembro. Todas as questões são dissertativas.

No dia da prova, selecionarei ao acaso quatro questões da lista global de 20 perguntas que divulguei anteriormente, em cada uma das turmas em que houver exame final. Você responderá às três questões que mais lhe agradarem, descartando aquela que quiser. 

A prova é individual e é permitida a consulta a fichamentos de textos e rascunhos de respostas. Mas como sabe com antecedência aquilo que cairá tem tempo de se preparar. Uma estratégia possível de preparação para o exame é que forme um grupo de estudo com outros estudantes em sua situação e criem uma dinâmica colaborativa.

O exame final ocorre no dia 10 de dezembro. De manhã, inicia-se às 9h50 e termina às 11h30. À noite, inicia-se às 20:50 e termina às 22:30. Ocorre respectivamente na sala do 3JOA e na sala do 3JOC.

Estou a sua disposição para qualquer dúvida -- menos sobre as leituras e o material que cai na prova. Meu correio eletrônico é japeschanski@casperlibero.edu.br e o verifico às quartas, à tarde, e sextas, de manhã.

Primeira lista de questões

Sobre cada um dos pares de visões teóricas alternativas (perguntas 1 a 4), (a) apresente de modo sucinto os argumentos centrais de cada alternativa teórica; (b) discuta semelhanças e diferenças entre as alternativas; (c) brevemente argumente a favor da alternativa que lhe parecer mais apropriada (ou as duas, se achar que ambas são válidas), destacando de que modo contribuem para explicar fenômenos sociais e políticos recentes.

1. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: o capitalismo na teoria institucionalista (textos de referência de Peschanski e Wright) e o capitalismo na teoria marxista clássica (textos de referência de Marx e Engels).

2. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: o socialismo como empoderamento social (textos de referência de Wright, Miguel, Peschanski, Santos e Rodríguez e Singer) e o socialismo na perspectiva clássica do marxismo (textos de referência de Marx e Engels).

3. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a relevância das classes sociais na perspectiva institucionalista (textos de referência de Peschanski e Offe) e na teoria marxista clássica (textos de referência de Marx e Engels).

4. Considere o seguinte par de visões teóricas alternativas: a teoria elitista da democracia (texto de referência de Schumpeter) e a teoria deliberativa e profunda da democracia (texto de referência de Avritzer).

Sobre cada um dos modelos de alternativa institucional ao capitalismo abaixo (perguntas 5 a 8), (a) descreva a proposta e explique seu funcionamento; (b) relacione-a à teoria do socialismo como empoderamento social de Wright; e (c) avalie sua desejabilidade, viabilidade e atingibilidade, relacionando-a a fenômenos sociais e políticos recentes.

5. O commons na produção cultural (texto de referência de Benkler).

6. O socialismo de ações (texto de referência de Miguel).

7. A renda para todos (textos de referência de Miguel e Peschanski).

8. O orçamento participativo (texto de referência de Avritzer).

9. Descreva e explique na trajetória de Przeworski a trajetória da social-democracia, explicitando a noção de dilema nas etapas dessa trajetória. (a) Explique o dilema do prisioneiro e relacione-o com a trajetória de dilemas do autor; e (b) apresente elementos empíricos ou teóricos a favor e contra a teoria da trajetória de Przeworski.

10. Não é fácil organizar um governo após um golpe. A derrocada de um regime é um período de turbulência e incerteza e são ruins as condições para criar e estabilizar um novo regime, especialmente quando se forma a partir de uma intervenção vista por muitos como ilegítima. Como se explica a estabilidade e até o dinamismo do regime militar brasileiro? (O texto de referência principal aqui é Cardoso.) Em que medida as condições dessa estabilidade e dinamismo se mantiveram após a abertura democrática? (O texto de referência principal aqui é O’Donnell.)

domingo, 23 de novembro de 2014

Provas substitutivas: informe

As provas substitutivas ocorrerão em 3 de dezembro, em dois horários:

-- de manhã, a partir das 9:50, na sala de aula do 3JOB;
-- à noite, a partir das 20:50, na sala de aula do 3JOC.

Por favor, confirme com a secretaria que seu pedido de substitutiva está em ordem. Não me ocuparei das questões burocráticas relacionadas a seu pedido.

Na prova substitutiva, serão cobradas todas as leituras obrigatórias do bimestre do qual não realizou a prova. Não há um plano de aula oficial para os dois primeiros bimestres, assim verifique as leituras a partir dos posts neste blog. É de sua responsabilidade verificar o material que será cobrado. (Para quem fizer a substitutiva relacionada à temática de democracia, eventualmente poderá estar na prova material relacionado ao texto de Leonardo Avritzer, sobre democracia deliberativa e orçamento participativo.) Não responderei email sobre as leituras.

Minha única sugestão é, se ainda não o fizeram, leiam com bastante cuidado os textos obrigatórios.

As provas substitutivas alternarão perguntas objetivas e dissertativas curtas. A dificuldade é equivalente às provas que apliquei no decorrer do ano.

Quem não puder comparecer no dia e em um dos horários indicados acima ficará sem nota na substitutiva, o que, salvo engano, equivale a um zero (já que não existe, se não me engano, a possibilidade de pedir substitutiva da substitutiva.)

Até o dia 3 de dezembro para quem tiver pedido substitutiva!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Atividades do dia 26: correção de prova bimestral e explicação de pontos de estudo para exame final

Oi, pessoal,
A princípio estarão disponíveis já na sexta os resultados da prova bimestral. Entrem em contato se houver algum problema.
No dia 26, estarei na faculdade, mas como o quórum deve ser baixo pensei em organizar apenas um horário de aula, em que farei a correção da prova bimestral com quem quiser entender sua nota e darei os pontos de estudo do exame final, que cobre o material do ano inteiro.
Em caso de dúvida, entrem em contato por email!
Mais uma vez obrigado pelo ótimo ano que cursamos juntos.
Abraços,
João Alexandre

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Slides da aula de 12 de novembro

Estão aqui os slides da última aula do ano. Discutimos as imbricações de mídia, poder e política.

Espero que tenham gostado desta ano de aulas e que mantenhamos na medida do possível o contato. Para mim, foi uma experiência ótima! Obrigado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Slides da aula de 5 de novembro

Nos slides aqui, há uma indicação de pontos a serem estudados nos textos que já cobrimos e a discussão que fizemos sobre os tipos de Estado -- patrimonial, burocrático e gerencial.

Na semana que vem, teremos nossa última aula do ano! Avançamos muito. Obrigado...

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Slides da aula de 22 de outubro

Seguem aqui os slides da aula de 22 de outubro, onde discutimos os programas políticos dos candidatos que disputam o segundo turno do pleito presidencial.

Foi uma aula mais prática do que teórica, onde não trabalhei com maior profundidade na própria aula os textos obrigatórios. Noto, de todo modo, que os textos cairão na prova, assim a leitura mais atenta é absolutamente necessária.

Para a semana que vem, quando vários de vocês entregarão os trabalhos, não haverá leitura. Na aula, assistiremos e discutiremos um belo documentário do Eduardo Coutinho, "Theodorico, o imperador do sertão".

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Slides da aula de 15 de outubro

Seguem aqui os slides da aula de 15 de outubro, onde vimos a análise contemporânea das noções de Estado e poder.
Vimos aqui a medida contraditória em que Estado e poder são ao mesmo tempo uma promessa e um risco de civilização.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Slides da aula de 8 de outubro

Estão aqui os slides da primeira aula sobre Estado e poder, em que discutimos o argumento de Max Weber em "Política como vocação". Na segunda metade da apresentação, há informações sobre as avaliações do curso: detalhes da prova do terceiro bimestre, esclarecimentos sobre as provas substitutivas e o exame final e o formato da avaliação do quarto bimestre.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Novo link para texto da aula de 8 de outubro

Oi! Cometi um erro no link no plano de aula do texto de Max Weber, "A política como vocação". Desculpem-me e obrigado aos estudantes que me alertaram! Abaixo, vai um link onde encontram o texto, na edição que sugeri no plano de aula. As notas e marcações, curiosamente, são do ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira.

http://www.bresserpereira.org.br/Terceiros/Cursos/09.08.Weber,A_politica.pdf

Vemo-nos amanhã!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Distribuição de notas da avaliação do terceiro bimestre

Atendendo a um pedido, que me pareceu justificado, coloco aqui a distribuição de notas das avaliações do terceiro bimestre. A média das notas foi 7,9 -- muito superior ao resultado das provas passadas. Há muito mais notas máximas do que nas outras avaliações. Assim, bom trabalho!


Na semana que vem discutiremos a avaliação e a correção. Entregarei as provas na ocasião.

A aula que vem também inaugura nossa discussão sobre o Estado. Não se esqueçam de fazer a leitura pedida.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Matéria sobre Projeto Wikipédia na Revista Galileu

Para quem não viu, aqui está o link para a matéria sobre o Projeto Wikipédia, que saiu na Revista Galileu. A matéria é de autoria de André Jorge de Oliveira.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Slides da aula de 17 de setembro

A última aula na temática de desigualdade econômica está disponível aqui.
Há também informações sobre a prova, que podem ser úteis.
Até a semana que vem, a da prova!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Slides da aula de 10 de setembro

Na aula de 10 de setembro voltamos à discussão sobre desigualdade econômica. Olhamos especificamente os processos sociais que causam a desigualdade e as políticas públicas que esse tipo de análise sugere. Os slides estão aqui.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Projeto Wikipédia na capa do site da Cásper

Uma matéria profunda e bem feita pela Júlia Faria (3oJOA) sobre nosso Projeto Wikipédia está (pelo menos hoje) na capa do site da Cásper. Leiam aqui. Gostei especialmente do bom espaço que nossa colega deu a estudantes, que revela uma apropriação da ferramenta e uma sofisticada compreensão do que é um espaço colaborativo. 



Recortei aqui os trechos com falas das estudantes.

Fernanda Fantinel, do 3ª JOA, se interessou pela dinamicidade do projeto porque, segundo ela, foge do “padrão de provas e trabalhos”

Giovana Cartapatti, do 3ª JOC, comentou que ficou contente ao saber que seu trabalho não “iria para a gaveta”, mas sim faria parte da história de alguém. 

Para Fernanda, a experiência de ler os relatos dos horrores da época da ditadura, diretamente de quem os viveu, é extremamente importante para a formação jornalística, além de ser um esforço de memória importante. “Senti-me cidadã e importante por ter a chance de influenciar a história do meu País dando voz a quem não teve a chance de ter uma”, orgulha-se Giovana. 

Se antes das aulas Fernanda, por exemplo, achava que a plataforma era “terra de ninguém”, onde qualquer um pudesse publicar o que bem entendesse, agora ela compreende o processo de edição e reconhece o trabalho dos editores: “Depois do trabalho senti mais confiança no que leio na Wikipédia e respeito pelas pessoas que colaboram com o site”. Além disso, as duas alunas entrevistadas continuam colaborando com a plataforma. 


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Wikipédia, um bem público global

Escrevi um textinho sobre a Wikipédia e nossa experiência do semestre passado no Jornal Cidadania de agosto, a convite de Beatriz Cesarini (3oJOB). Está no ar, aqui.
Obrigado por ajudarem a divulgar nosso trabalho em conjunto! É difícil ter a dimensão disso, mas nisso fomos inovadores!
Com a colaboração de duas estudantes -- a Mariana Diello e a Marília Carreira --, estou co-escrevendo um artigo acadêmico sobre nossa experiência na Wikipédia. Assim que tiver uma versão mais acabada, deixo aqui para ouvir suas críticas, antes de enviar para publicação.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Criptografia para jornalistas - como trabalhar de forma segura na Internet

No dia 3 de setembro, as turmas se juntarão, tanto de manhã quanto à noite, para a oficina "Criptografia para jornalistas -- como trabalhar de forma segura na Internet", ministrada por Rodolfo Avelino e organizada pelo Prof. Renato Rovai. A oficina será na Sala Aloysio Biondi. 

Diz o Prof. Rovai: "A palestra terá uma parte da história da criptografia e uma oficina de como usar programas, navegadores e aplicativos de comunicação que garantem privacidade". Ele também sugere que, se puderem, tragam laptops.

Aqui há um site do palestrante, para quem tiver interesse.

Por conta dessa atividade especial, o que estava previsto no plano de aula para esse dia fica apenas como tarefa sugerida. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Slides da aula 27 de agosto

Aqui estão os slides da aula sobre intersecionalidade. Apesar de os textos indicados para leitura serem densos, optei por uma aula de discussão, construindo em conjunto aquilo que realmente importa entender sobre as interações entre dominações.

Nos slides, há os links para todos os textos e o vídeo que foram usados em aula. As matérias são todas de autoria da jornalista Andrea Dip, da Agência Pública.

A intersecionalidade é o tema do momento em estudos de gênero e, com isso, saímos de nossa jornada por essa temática fascinante (gênero) e esse problema preocupante (desigualdade de gênero) no que há de mais atual. Nas próximas aulas deste bimestre, discutiremos desigualdade econômica.

Liberdade de opinião na imprensa

Recomendo vivamente a leitura de entrevista com Jorge Furtado, publicada na Revista Fórum e assinada por Gabriel Fabri, aqui. A ciência política, sabem, preocupa-se com o modo como configurações institucionais determinam tipos de comportamento. A instituição da mídia, tal qual descrita na entrevista e no documentário de Furtado que baseia a pauta, surge como problemática para estimular a liberdade de opinião, até mesmo dentro das redações. Confiram! Parabéns ao Gabriel pelo trabalho e obrigado por compartilhar.



sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Política e experimentos

Na primeira aula, falei do experimento da Devah Pager que comprova o mecanismo de discriminação estatística e a relevância da questão de como  percebemos a partir de desigualdades que estruturam nossa mente. Experimentos como este são poderosos, até porque permitem, se bem feitos, avaliar mecanismos causais, o que estudos que se baseiam em amostras populacionais nunca conseguem.

Espero ter a oportunidade de apresentar novos experimentos interessantes da política durante o semestre. Tenho pensado em alguns e verei se dá para encaixá-los, sem que vocês sintam que os estou fazendo de cobaia.

A estudante Sophia Winkel, do noturno, enviou-me um vídeo interessante sobre como experimentos também estão sendo aproveitados em reclames publicitários. Tenho algumas ressalvas "científicas" sobre o vídeo, aqui, que ela enviou, mas há realmente um aspecto interessante sobre como esse tipo de pesquisa pode revelar aspectos pouco óbvios das dinâmicas sociais. E, assim, faço minhas as palavras da Sophia: "[Essa propaganda] me fez pensar sobre uma porção de características sociais e culturais e sobre a construção delas. Achei interessantes e uma sacada incrível de mkt".

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Slides da aula de 20 de agosto

Seguem aqui os slides da aula sobre as bases materiais da desigualdade de gênero, para a qual lemos o texto de Danièle Kergoat e o de Heleieth Saffioti, duas das principais teóricas do feminismo.

Aqui está o link para o texto completo sobre a "cantada" no Rio.

Na semana que vem discutiremos as conexões entre várias desigualdades, a intersecionalidade.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Política para quê? -- palestra a convite do Centro Acadêmico

Na segunda, dia 18, fiz uma palestra no contexto de atividades sobre "Política para quê?", organizadas pelo Centro Acadêmico da Cásper. Imagino que muitos não tenham tido a oportunidade de participar, então copio abaixo o texto que estruturou minha fala. Fiquem à vontade para enviar comentários!

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Política para quê?

Segunda-feira, 18 de agosto de 2014

João Alexandre Peschanski
Faculdade Cásper Líbero

Existe uma lei férrea em disputas eleitorais: os sistemas eleitorais determinam as estratégias partidárias. De maneira sucinta, disso decorre que as regras do jogo, aquilo que se usa para computar votos e transformá-los em poder, influenciam o modo como partidos e eleitores tomam suas decisões. A interpretação forte dessa lei é que todos os resultados eleitorais podem ser explicados pelos resultados de votações. É uma posição insustentável, mas o que ela sugere é que sairá vencedor aquele que for o mais apto a aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças do jogo político. A disputa eleitoral nessa interpretação forte resume-se a um jogo de videogame em que os candidatos, nem sempre com as mesmas capacidades iniciais, competem e ganha aquele que for o mais apto em, se você estiver jogando Angry Birds, recuperar seus ovos roubados por porcos verdes. Nessa visão da política angry-birdiana, todos os candidatos são qualitativamente equivalentes, pois seu perfil político é decidido de antemão pelas regras do jogo e o ator individual, partido ou eleitor, importa pouco.

No mundo como ele é, dizer que as regras eleitorais determinam as estratégias de partidos e candidatos apenas sugere que tais regras limitam o escopo da política, geram incentivos e desestímulos aos atores que se envolvem nas eleições. Há outros fenômenos que importam. A legislação eleitoral, como o exemplo da Ficha Limpa, modifica a dinâmica do jogo pelo voto. A importância do cargo importa: vocês não votam a partir dos mesmos cálculos para representante discente ou síndico de seu prédio e para presidente da República. Qual será que importa mais? Acontecimentos que abalam a vida social modificam resultados esperados. O Datafolha de hoje dá a Marina Silva em empate técnico com o Aécio Neves no primeiro turno e com a Dilma no segundo turno, a dias do trágico acidente com o Eduardo Campos. Os caminhos que levam candidatos a tomar o poder, por mais que sejam limitados por algumas balizas eleitorais, são ainda relativamente incertos. O jornalista Renato Essenfelder, que tem uma coluna semanal no Blog do Estadão, publicou hoje uma crônica sobre um passarinho que cai a seus pés, morto, num dia qualquer, de vento e a morte, esta sim inescapável, é também espaço de poesia, onde se vive o paradoxo de ser impossível planejar a vida e enlouquecedor não planejar a vida. A vida assim é, obrigado ao cronista, mais poética do que o Angry Birds!

O que me interessa discutir aqui, nesse seminário “Política para quê?”, é entender nesse sistema de determinações a importância de programas políticos, de propostas a serem debatidas, no contexto da disputa eleitoral. O que me interessa portanto é saber até que ponto os candidatos, nos jogos por votos, são efetivamente portadores de propostas o contrafactual é que propostas não fazem mais parte da disputa política (uma posição difícil de defender) ou que propostas mudam de acordo com as oscilações da disputa por votos, ou seja, não são um efetivo programa de governo, mas chamarizes de eleitores, aquilo que chamamos por esse sofisticado conceito “promessas de campanha”. Vou principalmente colocar o foco nos partidos que entram nas disputas para ganhar naquele pleito, por mais que haja outras motivações a participar de pleitos, como dar visibilidade a um projeto, fazer agitação ou até mesmo criar um plano de médio ou longo prazo para vencer uma votação futura.

A primeira resposta a meu questionamento precisa obviamente olhar para o jogo que está sendo jogado. E, preparem-se, estamos todos sendo convidados a jogar simultaneamente vários jogos nas eleições de 2014. Para a escolha de presidente e governador, vamos jogar o sistema majoritário em dois turnos. O que decide a eleição aqui é a maioria absoluta, onde o eleito precisa obter mais de 50% dos votos válidos (excluídos brancos e nulos). Vão para o segundo turnos os dois candidatos mais bem votados no primeiro turno, se nenhum deles tiver atingido o patamar de 50%+1 votos válidos. Para a escolha de senador, vamos jogar o sistema majoritário relativo, onde é eleito aquele que obtiver a maior votação em um único turno. Essa regra faz com que provavelmente elejamos um candidato que recebeu uma minoria dos votos. Os principais candidatos à disputa pelo Senado no Estado de São Paulo têm mais ou menos um terço das preferências eleitorais, por exemplo. Para a escolha de deputados, vamos jogar o complicado sistema proporcional de lista aberta. Nesse sistema, os votos são nominais e o ordenamento das listas partidárias é definido por quem for o mais votado de cada legenda. Há outras determinantes no modo de funcionamento desse mecanismo de eleição que o tornam um dos mais complexos do mundo. Ou seja, quando você votar para deputado federal ou estadual estará no nível avançado do joguinho.

As eleições majoritárias, especialmente as de um só turno, tendem ao dualismo de partidos. Os custos associados a entrar numa eleição majoritárias são altos: basicamente, se você conseguir muitos votos, quase a maioria, que seja 70 milhões de votos o colégio eleitoral brasileiro tem 141 milhões de pessoas , você perde tudo. Diante desse risco, há uma tendência a aqueles que querem disputar para ganhar organizarem-se em grandes blocos partidários, como coligações. Para o eleitor, isso pode estimular um tipo de comportamento avesso ao desperdício do voto, ou seja, votar naqueles que podem ganhar. Tanto para o lado do eleitor quanto para o do candidato isso gera uma relativa independência entre a estratégia na eleição e o programa. O eleitor não quer “perder” seu voto e, nesse sentido, tende a votar naquele que for o menos pior do ponto de vista de suas preferências. O eleitor pode ser um ativo militante em prol da legalização irrestrita do aborto ter essa bandeira como definidora de seu comportamento e, se não houver um candidato que abrace com a força com que ele abraça essa bandeira, ele provavelmente optará por aquele que mais se aproxima disso ou que menos se afasta dessa bandeira. Como não temos todos apenas uma bandeira, isso exige um exercício não trivial de decodificação das opções partidárias , que, algumas teorias mostram, somos geralmente capazes de fazer. Para o candidato, que realmente queira vencer, a regra da maioria é dura para o que é de seus programas políticos. Estes tendem a ser estrategicamente revisados, até certo limite, para conseguir adaptar-se às condições da maioria eleitoral que eventualmente poderia votar em mim. De que adianta eu me dizer a favor da descriminalização do uso de algumas substâncias atualmente consideradas ilícitas, como a maconha, se uma parcela importante do eleitorado importante demais na minha estratégia para vencer o pleito for contra essa política? A posição esperada de candidatos nesse contexto é abdicar de suas posições em busca de uma estratégia que visa à captura do “eleitor mediano”, um eleitor ideal cujas características sintetizam o centro das preferências do eleitorado. O eleitor mediano pode ser 72% radicalmente corinthiano (o que evidencia que ele tem bom gosto) e 48% defensor da ampliação dos direitos sociais, mas também 43% machista e 65% propenso a se entusiasmar com a violência a populações indígenas. É esse ser multifacetado, estranho, que todo candidato que queira ganhar a eleição tenta identificar o que não é algo fácil e certeiro e convencer; se o fizer, ganhou!

A votação para o Senado, majoritária e em um turno, é talvez a na qual a pasteurização programática que sugere a captura do eleitor mediano seja a mais óbvia. No caso de 2014, deve ser um fenômeno interessante, já que os dois principais candidatos, aqueles que entram para vencer o jogo, são políticos fortes, muitas vezes identificados a tipos de programas e terão justamente de deslocar-se para o centro. As eleições presidenciais são um pouco diferentes, já que pode haver um primeiro turno em que haja mais discussão programática o que é potencializado quando se há três partidos, enfraquecendo o quase-consenso sobre as grandes diretrizes da políticas dos principais partidos e um segundo turno em que vale a dureza da captura do eleitor mediano, onde quem parecia de esquerda no primeiro turno tem de coligar-se com a direita, na estratégia da vitória.

A regra do jogo das eleições parlamentares favorece a existência de muitos partidos, muitos candidatos que eventualmente jogam para ganhar. O Brasil adota um sistema complicado e não é desprezível o fato de as pessoas votarem e até disputarem esse tipo de pleito sem saber de fato todas as regras e até as pessoas votarem como votam como forma de rejeitar a complicada fórmula eleitoral. Nosso sistema estabelece algumas barragens, que favorecem os partidos mais votados, o que poderia limitar a fragmentação. Na prática, não ocorre bem isso. O Brasil deve ter trinta e dois partidos com candidatos para deputados, incluindo o Partido Ecológico Nacional (PEN), que não pode ser confundido com o antigo PAN (Partido dos Aposentados da Nação). Não vou entrar em detalhe no modo como as vagas nas Câmaras são decididas até porque essas regras mudam bastante (até alguns anos atrás, os votos brancos e nulos contavam no cálculo do quociente eleitoral, o que criava alguns casos surpreendentes) , mas há vários detalhamentos disponíveis na internet, em especial uma descrição em sete operações operações de cálculo! distribuída por um Tribunal Regional Eleitoral (http://www.tre-pe.jus.br/eleicoes/calculo-do-quociente-eleitoral), com o gentil intuito de simplificar nossas vidas. O quociente eleitoral que mencionei acima é um limite mínimo que os partidos devem atingir para serem considerados como aptos a ter vagas parlamentares.

O eleitor que queira computar um voto válido em uma eleição parlamentar tem duas opções. Ou vota em um candidato individual ou vota em uma legenda. O voto no Brasil é, de todo modo, muito individualizado e as bancadas eleitas acabam sendo o resultado de muitos bons resultados individuais, de políticos competitivos. Para o candidato, cria-se um problema: ele precisa distinguir-se de outros candidatos em seu partido e de outros partidos. Há uma tendência à repulsa em torno de um programa político de partido uma vez que a disputa é individualizada e o candidato está solto para agir como indivíduo no pleito não há estímulo ao desenvolvimento de plataformas programáticas. Os partidos são bem descritos como confederações de candidatos, onde cada um luta por si só e tenta estabelecer favorecimentos a um grupo de eleitores que seja suficiente para elegê-los, sem de fato se preocupar com discussões mais abstratas e programáticas. Há também uma tendência a escolher puxadores de voto apenas minimamente competentes para assumir o bom desempenho da condução política do país, como vedetes duvidosas e pessoas com difusão midiática. Na perspectiva do eleitor, torna-se difícil deixar de votar em alguém, achando que esse candidato tem poucas chances de vencer. Mas também se torna difícil demais, custoso demais, votar em alguém.

A descrição das regras do jogo eleitoral, que se tornam ainda mais complexas se imaginarmos que, ocorrendo simultaneamente, tais regras podem interagir entre elas (o que é um tema controverso na ciência política), leva-nos a um cenário bastante pessimista em relação às possibilidades de votos programáticos no Brasil, isto é, votos que realmente expressem um diálogo de ideias construtivo acerca de nosso projeto de sociedade e nação. Como agir se nosso objetivo for o de uma política de melhor qualidade, vinculada a aumentar o bem-estar geral de nossa vida nesse território, aprofundar a democracia entendida como a capacidade de influenciar decisões sobre temas, clivagens com os quais eu me importe? Política para quê, nesse cenário de pasteurização e disputa rala?

Por um lado, pode-se pôr em pauta uma modificação das regras eleitorais para que estas estejam mais de acordo com uma concepção robusta de democracia, onde participamos das decisões que nos afetam e há mecanismos que estimulem a participação e a boa decisão política. O que está em questão aqui é uma reforma política, visando a um aprofundamento democrático. Interessantemente, essa questão, que envolve uma mudança potencialmente mais abstrata, mais macropolítica, está na ordem do dia antes mesmo das eleições. Há uma campanha de movimentos sociais tradicionais que organiza para a Semana da Pátria, em setembro, um plebiscito por uma Assembleia Constituinte, basicamente a criação de um instrumento institucional para mudar as regras do jogo das eleições. Para além dos problemas que coloquei em torno da questão do programa, nosso modelo eleitoral está sujeito a todo tipo de desvio, como a influência excessiva do dinheiro privado. A campanha pela Assembleia Constituinte tem um site com bom material explicativo e de agitação ((http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/) e deve contar com uma mobilização na Cásper. A discussão de mudanças nas regras do jogo é um caminho para resolver os problemas de apolitização e consequentemente o déficit democrático de nossas eleições.

Por outro lado, o que fazer para colocar-se em prol de uma política propositiva, não meramente competitiva, nas eleições tais quais elas são? Há correntes que pregam o voto nulo ou branco como forma de descontentamento. Há sempre fantasias sobre a possibilidade de anular uma eleição se o quórum desses votos for alto; a legislação eleitoral não prevê essa possibilidade. No fim das contas, o voto nulo ou branco acaba favorecendo a mesmice da competição pelos votos válidos. Há correntes que pregam o voto irresponsável, no nanico, pelo simples fato de ele ser pequeno, ou no esdrúxulo, pelo simples fato de todos serem palhaços mesmos. O descontentamento nesse sentido intensifica a despolitização e a ideia de aprofundar a democracia, o objetivo da política, é justamente o oposto: é preciso politizar, no sentido de fomentar espaços de discussão de propostas e programas. Uma saída moderada para o primeiro turno em eleições de dois turnos e para as eleições proporcionais é adotar a estratégia politizadora, votar no candidato dentro de um partido/coligação que apresentar as melhores propostas, dando visibilidade e agito ao fato de seu voto ser programático, exigindo detalhamentos, exigindo mecanismos de prestação de contas, não necessariamente de que a proposta vai ser posta em prática muitas vezes isso não depende apenas do eleito , mas que guiará a atuação do candidato se eleito e fará de seu mandato um espaço de disputa por essa proposta. Mas o que fazer no voto para o Senado? Num eventual segundo turno? São situações mais difíceis e mais difíceis de serem resolvidas pelos limites das regras. No entanto, os candidatos tenderão, como vimos, a buscar o centro do eleitorado e uma solução é mobilizar-se para deslocar o centro do eleitorado para mais perto daquilo que você acredita ser o certo: o protagonismo politizador fica então em suas mãos. Isso é evidentemente difícil, mas é um pouco menos difícil com a possibilidade de estabelecer contatos e discussões de maneira mais barata com as novas tecnologias.

Danièle Kergoat em São Paulo, hoje

A autora do texto que discutiremos amanhã, Danièle Kergoat, uma importante cientista social e feminista, está HOJE em São Paulo, em uma conferência na SOF (Rua Ministro Costa e Silva, 36, Pinheiros), a partir das 19h. É uma rara ocasião de estar em contato com uma pensadora fundamental na temática que estamos estudando. O comunicado da atividade com Kergoat cita o fato de ser sua primeira vez em São Paulo, aqui. Recomendo vivamente que todas e todos que tiverem interesse nas discussões sobre (des)igualdade de gênero não percam essa oportunidade! E desculpem só avisar hoje, só vi o anúncio agora.

sábado, 16 de agosto de 2014

"O segundo sexo" revisitado pela autora

Na preparação da aula sobre o livro clássico de Simone de Beauvoir, encontrei uma entrevista que ela concedeu décadas após a publicação do livro, em que discorre sobre o impacto da obra tanto nas ciências sociais quanto nos movimentos feministas. É um documento de grande valor, cuja leitura, infelizmente em inglês e sem tradução (pelo que pesquisei), recomendo vivamente a quem quiser aprofundar-se nessa discussão. O link está aqui.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Slides da aula de 13 de agosto

Aqui estão os slides da aula de 13 de agosto, em que discutimos a introdução de "O segundo sexo", de Simone de Beauvoir. É um texto basilar do pensamento sobre questões de gênero e a leitura de outros trechos da obra, em especial os indicados nas leituras sugeridas para esta aula, e o início do segundo tomo da obra são recomendadíssimos. É no início do segundo tomo em que está a frase que vocês jamais devem esquecer: "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher". O mesmo vale para homens e toda a vasta gama de possibilidades de identificação de sexo (anatômica) e gênero (social).

Abaixo trechos do script da aula, que podem ser úteis para a revisão do argumento:


Todo gênero é por definição não natural. O que a Simone de Beauvoir diz é que nossa anatomia não determina nossa identidade.

O gênero é o significado e a forma cultural que o corpo, o sexo adquire, num processo variável de aculturamento do corpo, do sexo.

Sem dúvida, a mulher é, como o homem, um ser humano. Mas tal afirmação é abstrata; o fato é que todo ser humano concreto sempre se situa de um modo singular. Recusar as noções de eterno feminino, alma negra, caráter judeu, não é negar que haja hoje judeus, negros e mulheres; a negação não representa para os interessados uma libertação e sim uma fuga inautêntica. É claro que nenhuma mulher pode pretender sem má-fé situar-se além de seu sexo. Uma escritora conhecida recusou-se a deixar que saísse seu retrato numa série de fotografias consagradas precisamente às mulheres escritoras: queria ser incluída entre os homens, mas para obter esse privilégio utilizou a influência do marido. As mulheres que afirmam que são homens não dispensam, contudo, as delicadezas e as homenagens masculinas. – p. 8

Há implicações diretas sobre como nós nos entendemos. Se ser uma mulher é uma entre várias interpretações possíveis de ser fêmea, e se essa interpretação não decorre necessariamente do ser fêmea, então é arbitrário imaginarmos que o corpo da fêmea é sempre o local em que se desenvolve a mulher. Todo tipo de anatomia é possível com todo tipo de generização.

Há outra implicação interessante na definição de que nos tornamos mulheres. Em que medida conscientemente nos tornamos de tal ou tal gênero? Em que medida estamos socialmente determinados a adotar tal ou tal gênero? Escolho se sou homem ou mulher ou outra coisa? Ou isso é imposto sobre mim? Beauvoir parece dizer que escolhemos nossos gêneros, mas dentro de limitações que nos são impostas. Escolhemos de acordo com os estilos e repertórios disponíveis.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Versão em PDF de matéria sobre Projeto Wikipédia

Aqui está a matéria sobre o Projeto Wikipédia da Cásper Líbero, que saiu na revista A Rede, assinada pela excelente jornalista Áurea Lopes. Gostei bastante da matéria, que, numa publicação voltada a professores e educadores no geral, tem uma linha de mostrar os passos que seguimos, permitindo a quem quiser replicar nosso trabalho.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Slides da aula de 6 de agosto

Vejam aqui os slides da aula de introdução à desigualdade, com algum aprofundamento sobre desigualdade econômica. Voltaremos a essa temática mais específico em três aulas.

As próximas sessões do curso versarão sobre desigualdade de gênero. Iniciaremos a discussão com a leitura da introdução de "O segundo sexo", de Simone de Beauvoir, uma obra fundante da tradição feminista.

Além das leituras listadas no plano de aula para 13 de agosto, na seção sobre "a origem" da desigualdade de gênero, recomendo o ensaio de introdução ao pensamento de Beauvoir, publicado na Revista Cult, na edição 133: "Beauvoir e os paradoxos do feminino", de Magda Guadalupe dos Santos, aqui.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Slides da aula de 30 de julho

Aqui estão os slides da primeira aula do terceiro bimestre, uma introdução à temática da desigualdade e por que ela importa. Todo esse bimestre girará em torno de várias facetas dessa temática, especialmente as desigualdades econômicas e de gênero.

No post anterior, deixei disponível o plano de aula, aqui, onde há os links para as leituras de todo o semestre. Consultem sempre esse documento e, recomendo, tenham as leituras em dia. É interessante que façam da tarefa de ler para as aulas uma rotina, tornando mais eficiente o aproveitamento do curso.

Para a aula que vem, de 6 de agosto, a leitura obrigatória é o texto de Göran Therborn sobre o impacto civilizacional das desigualdades, que identifica como "campos de extermínio". É um texto importante e preocupante!

Dúvida? Escrevam-me: japeschanski_at_casperlibero.edu.br

terça-feira, 29 de julho de 2014

Plano de aula do Segundo Semestre de 2014

Oi pessoal!

Espero que tenham aproveitado as férias para descansar, relaxar e se preparar para mais um intenso e interessante semestre de Ciência Política. Há duas questões-chave que dão a linha agora: no primeiro bimestre, iremos a fundo na questão da desigualdade; no segundo bimestre, estudaremos várias facetas do Estado e do poder.
As leituras misturam obras clássicas e consagradas com tentativas recentes de entender essas temáticas. Há leituras densas, outras jornalísticas, além de dois filmes previstos para o semestre.
O plano de aula cujo link segue abaixo está impresso, mas não sobre pedra, assim que temos liberdade, se assim o desejarmos, de mudar de rumo no decorrer do semestre. Sei que há especial interesse de grupos de estudantes sobre temas relativos a gênero e diversidade sexual: não hesitem em mandar sugestões de leitura e até pensar uma atividade de discussão com a turma, se quiserem se apropriar de uma aula ou parte de uma aula.

https://files.numec.prp.usp.br/data/public/c551ff.php

terça-feira, 8 de julho de 2014

Projeto Wikipédia na mídia

Parabéns a todas e todos que se envolveram com nosso Projeto Wikipédia, trazendo para a enciclopédia eletrônica o esforço de nossa pesquisa sobre mortos e desaparecidos políticos na ditadura militar brasileira. Saiu uma matéria na Revista Fórum, assinada por Isadora Otoni, sobre nosso trabalho, com especial destaque para contribuições de estudantes. Pode ser lida aqui.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A sociologia das interseções

O texto aqui, de Juliana Cunha, no Blog do IMS, merece ser lido. É uma belíssima reflexão sobre as interseções de categorias sociais e como as interações se formam nessas interseções. Discutiremos muito isso no segundo semestre.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Feminismo e Wikipédia

Uma das mais recentes atividades cooperativas para contribuir com a Wikipédia foi em torno de feminismo e arte, uma maratona de edições ("edit-a-tona", como chamam esse tipo de iniciativa na Wikipédia) que reuniu seiscentas pessoas em todo o mundo. Há um vídeo bastante interessante sobre isso, aqui, em inglês.
Nas entrevistas, chamou minha atenção mais uma vez a informação de que a maioria das pessoas que contribuem com a enciclopédia é formada por homens. Mudemos isso!
Também chamou minha atenção o fato de não estarmos sós nessa empreitada de melhorar a Wikipédia. Material como esse vídeo ajuda a ter uma noção da comunidade em torno da Wikipédia.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Oficina de edição na Wikipédia

Hoje temos oficina de edição na Wikipédia com Célio Costa, da própria Wikipédia. É um momento para resolverem todas as dúvidas, discutirem estratégias para a elaboração da tarefa final (instruções aqui). Aproveitem ao máximo essa oportunidade. É uma grande generosidade do Célio Costa atender a nossa convocação.

Lembrando que a tarefa final tem prazo improrrogável de 15 de junho.

Também amanhã devo entregar as provas.

Aproveito também para divulgar mais um excelente verbete que já foi produzido no escopo do Projeto Wikipédia e que merece nossos aplausos.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeová_Assis_Gomes


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Último dia para a tarefa 3 do Projeto Wikipédia (nota parcial)

Apenas lembrando que hoje é o último dia para fazer a tarefa 3 do Projeto Wikipédia (valendo nota parcial) para aqueles que não a fizeram ainda. Instruções mais detalhadas podem ser lidas aqui. Não haverá extensão de prazo, em nenhuma circunstância.

terça-feira, 3 de junho de 2014

As ciências sociais da Wikipédia

O conhecido cientista social Zygmunt Bauman, que, espero, ainda leremos no curso, esteve em destaque negativo na mídia, ao ser acusado de plagiariamo, em específico de material que teria coletado da Wikipédia. O artigo na mídia sobre o caso pode ser encontrado aqui (em inglês).

O que está colocado aqui é o desafio de fazer ciência, em especial ciência social, na era da Wikipédia. Os estilos, as preocupações de referência, o papel do leitor (que se torna em parte um potencial checado de fontes) e a própria noção de originalidade do argumento estão mudados com a facilidade com que conseguimos ter acesso a repositórios importantes de informação. O intelectual, incluindo o Bauman, não pode ficar alheio a isso, sob o argumento de que a mudança tecnológica não afeta o tipo de produção intelectual que desenvolveu ao longo de sua carreira.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

O Brasil visto de fora

Abaixo, copio uma recente entrevista com o sociólogo Domenico de Masi, recomendada por "nossa" Betiane Batista. É um texto longo, em que o entrevistado diz que as manifestações do ano passado e contra a Copa são na verdade de otimismo em relação a um país que melhorou e dá certo. Há também uma análise interessante sobre a percepção dos últimos três governos. Publicada originalmente em "Brasil Econômico", aqui, autoria de Paulo Henrique de Noronha e Octávio Costa.

Diz a Betiane, na recomendação do texto: "Domenico de Masi, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade La Sapienza, Roma [...] acabou de lançar um livro em que há um capítulo só sobre o Brasil". É sempre audacioso escrever sobre um país que não é o nosso, mas, levada a sério a empreitada, pode ser a fonte de análises inesperadas e duradouras. Aqui, o sociólogo nos traz a perspectiva de quem vive na Europa, um continente em que rondam perigosamente forças políticas extremamente conservadoras.

Boa leitura!


02/06/2014 | 09:10 - Atualizado em: 02/06/2014 | 09:07

"Meu otimismo com o Brasil se baseia nas estatísticas", diz Domenico De Masi

Autor do livro ‘O Futuro Chegou’, que descreve os modelos desenvolvidos por diferentes países em épocas diversas, o sociólogo italiano dedica um capítulo ao Brasil, com uma visão bastante otimista

Paulo Henrique de Noronhapaulo.noronha@brasileconomico.com.breOctávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
O sociólogo italiano Domenico De Masi tornou-se famoso na virada do século quando lançou sua audaciosa teoria sobre o ócio criativo, que dá ênfase à cultura da inteligência e à contemplação da beleza. Agora, no livro “O Futuro Chegou!”, volta a surpreender pelo grande destaque que dá ao modelo social brasileiro. Na obra de mais de 700 páginas, ele se debruça sobre 15 modelos de vida — entre os quais, o capitalista, o socialista e o comunista — e dedica o último capítulo ao Brasil, concluindo que o país “se encontra numa situação única em relação ao seu passado e ao seu futuro”. Tem diante de si um grande desafio: “Pode dissolver-se na confusão ou pode gerar o modelo inédito de que o mundo precisa”.
Em entrevista ao Brasil Econômico , no Rio, o sociólogo deixa claro que acredita mais na segunda hipótese. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e admirador do antropólogo Darcy Ribeiro, De Masi afirma que “o Brasil é um bom exemplo para o mundo pela convivência, pela criatividade, pelo sincretismo religioso”. E destaca que a miscigenação é o principal valor do país. Dá também uma explicação simples e objetiva para sua aposta: “Quando me perguntam porque eu sou otimista com o Brasil, eu respondo: vejam os dados estatísticos”. E dá um exemplo que lhe é familiar. “Dez anos atrás, havia no mundo 196 países. A Itália estava no 7º lugar no ranking econômico e o Brasil estava no 10º lugar. Hoje, está em 7º lugar e a Itália no 10º. Esse é um enorme motivo (para o otimismo)”.
Em seu último livro, o senhor se mostra otimista com o Brasil, num momento em que o país passa por várias dificuldades. Qual a razão para seu otimismo?
Os dados estatísticos oficiais. Dez anos atrás, havia no mundo 196 países. A Itália estava no 7º lugar (no ranking econômico), o Brasil estava em 10º lugar. Hoje, o Brasil está em 7º lugar, e a Itália em 10º. Esse é um motivo enorme. O Brasil é o quinto país exportador industrial do mundo. No Brasil há uma população de 200 milhões numa superfície que é 28 vezes maior que a da Itália. No Brasil não há conflitos de guerra com países vizinhos desde a guerra do Paraguai. A Itália fez guerra com todos os países em seu entorno, contra França, Alemanha, Espanha etc. No Brasil há uma redução, relativamente pequena, da classe mais pobre, a classe alta está aumentando. Na Itália, a classe alta vai diminuir, vai se proletarizar. São razões muito relevantes.
Mas neste momento o país vive um surto de manifestações, há toda uma pressão por melhores e maiores investimentos em saúde, educação...
Para mim, essas são demonstrações de otimismo. É bom que o país seja pacífico, mas não submisso, não colonizado. Vejo grandes problemas no país: a violência, a corrupção, a distância entre ricos e pobres e o analfabetismo. Se o governo é muito lento na resolução desses problemas, é importante que haja essa manifestação de massas para acelerar as soluções. É melhor ter essa manifestação na praça do que ter submissão.
Trechos de seu livro foram pinçados para mostrar que o sr. estaria se comportando mais ou menos como autores do passado, que falavam do “bom selvagem”, da índole cordial do brasileiro...
Não, não. Eu me referia a resultados de pesquisas de 10 anos atrás, feitas por antropólogos brasileiros, e não por mim, não é uma ideia minha. Esse personagem foi descrito por esse antropólogo, DaMatta (Roberto), e outros estudiosos brasileiros, mas não é ideia minha.
Mas o sr. fala dessa visão de que o Brasil conviveu bem com a questão racial, de que a miscigenação faria parte da personalidade de nosso povo...
Eu faço uma comparação com países eslavos, Iugoslávia, Hungria, Romênia etc., onde há quatro raças que sempre guerrearam, há mil anos guerream. No Brasil, há 45 etnias e não há uma guerra de brancos contra negros, de africanos contra índios. Houve, sim, uma grande exploração capitalista dos escravos e dos índios. Mas guerra, não.
Entretanto, o sr. diz que o Brasil pode servir de exemplo para o mundo.
Em alguns aspectos sim, sob outros, não. Não é um bom exemplo pela violência, pela corrupção. Mas é um bom exemplo pela convivência, pela criatividade, pelo sincretismo religioso.
"A miscigenação é o maior valor do Brasil", diz o sociólogo italiano Domenico De Masi, autor do livro "O futuro chegou!"
Foto:  José Pedro Monteiro/Agência O Dia

O sr. fala que o Brasil teria que buscar um modelo próprio, já que se inspirou por 450 anos na Europa e por 50 anos nos EUA. Qual seria esse modelo?
Eu disse que o Brasil deve contribuir para criar um modelo novo. Há 15 modelos: o indiano; o chinês; o japonês; o clássico de Roma e da Grécia; o modelo hebraico; o católico; o muçulmano; o protestante; o iluminista; o liberal; o capitalista; o modelo socialista; o comunista; o pós-industrial; e o modelo brasileiro. Cada qual tem aspectos positivos e negativos. Eu digo que um novo modelo tem que pegar os aspectos positivos, o melhor de cada um desses 15. O Brasil é um dos 15, não é o modelo, mas tem suas contribuições a dar.
Que modelo o Brasil deveria buscar?
Vejo que o modelo do futuro teria que ser universal. Não deveria ser brasileiro, americano ou italiano, mas sim universal. Um modelo baseado sobre a miscigenação, em que haja multiculturas. Baseado na beleza, na harmonia. Não deve ser um modelo brasileiro, italiano ou japonês, mas uma síntese universal, tirando o que cada um tem de melhor. Não digo que o modelo do futuro é brasileiro. Digo em meu livro que o futuro chegou para todo o planeta, não só para o Brasil. Falo de modelos, no plural, para uma sociedade desorientada, planetária. Não digo que esse ou aquele modelo é melhor, digo que cada um tem aspectos positivos e negativos. Temos que pegar os aspectos positivos.
No momento, com o livro de Thomas Piketty (“Capital no século XXI”), há um questionamento do modelo capitalista, sobre a concentração de renda, que estaria se agravando nos países ricos... 
Isso já dizia Marx em seus trabalhos... O que propõe Piketty?
Ele propõe o imposto sobre fortunas, sobre a alta renda financeira.
É o welfare state . É um modelo antigo, socialista, de reforma. A criação desse imposto seria importante, desde que se traduza em serviços sociais, como na Suécia. Na Itália, há altos impostos, mas que não se traduzem em serviços sociais. Eu pago 57% de impostos, na Suécia é na faixa de 60%. A diferença entre Itália e Suécia é que, na Itália, os impostos não se revertem em bons serviços para a população, por causa da ineficiência burocrática e da corrupção.
O FMI, nos discursos de sua diretora-geral, Christine Lagarde, e em documentos técnicos, tem destacado a questão da desigualdade, como um risco para a sobrevivência do capitalismo. O sr. acha que o capitalismo já acordou para o problema da desigualdade?
Todos os autores capitalistas, Adam Smith, Tocqueville, Montesquieu, Jeremy Bentham, Paul Samuelson, todos consideraram o problema da desigualdade. A questão é que esses autores capitalistas, liberais, dizem que a desigualdade não é vencível, não pode ser eliminada. Mas os economistas socialistas, social-democratas e marxistas dizem que a desigualdade só pode ser eliminada. No capitalismo, não há sensibilidade para a questão da desigualdade. A não ser que seja um capitalismo social-democrático. O Brasil teve a sorte de ter tido Fernando Henrique Cardoso e depois, Lula. Fernando Henrique era social-liberal, Lula era socialista. Fernando Henrique acumulou a riqueza, Lula a distribuiu.
E Dilma Rousseff?
Dilma não é nem um, nem outro. É uma via intermediária. Mas eu não conheço bem. Depende muito do estilo. O fato de ser mulher não quer dizer nada, Angela Merckel é mulher e tem uma personalidade forte. Margaret Thatcher também tinha. Creio que Dilma não tem uma boa equipe, mas não conheço bem a situação.
O sr. sente uma diferença entre os quatro anos de governo de Dilma e os oito anos de Lula?
O governo de Lula viveu uma grande contradição. Teve dois grandes processos de corrupção. Há muitas pessoas do governo Lula que estão presas. No Governo Dilma, até agora, não há presos, não sei no futuro... Uma diferença é que o governo de Dilma tem um desempenho mais regular, o de Lula teve muitos altos e baixos. O que depende muito do estilo de cada um, Lula era muito carismático e de compromissos, mas eu não conheço muito bem os governantes brasileiros. Conheço bem Fernando Henrique, que é meu amigo e com quem falo regularmente, mas não conheço bem Lula e Dilma.
Fernando Henrique não está tão otimista quanto o sr. sobre o Brasil...
Mas ele é oposição, não pode ser otimista... (risos). Se vencer a eleição, ele voltará a ser otimista. Quem é governo, é otimista; quem é oposição, é pessimista; é assim no mundo todo. O Brasil é o quinto no mundo em produção industrial, sétimo PIB mundial, tem uma taxa de desemprego baixa, que é um terço da que temos na Itália e metade da que temos na Europa, que está, na média, em 12%. Sobretudo, o desemprego dos jovens no Brasil é mínimo. Sabe quanto é o desemprego dos jovens na Itália? 42%. Há 2 milhões de jovens que nem estudam nem trabalham. É desastroso.
Como o sr. viu essa eleição do Parlamento Europeu, que teve um avanço da direita e da extrema-direita em países como França, Inglaterra e Dinamarca?
A crise profunda da Europa aumenta. Há um elemento objetivo, que é quando na União Europeia os estados são reduzidos a regiões. Como aconteceu na Itália no século 18, com os estados de Nápoles, Roma, Piemonte, que hoje são regiões. Esse é um processo doloroso, mas indispensável para criar uma Europa unida. Outro problema é que a união é prioritariamente econômica, sem a união política. Há união monetária comum, mas não uma política monetária e financeira comum. Há a política global do banco central europeu e diferentes políticas econômicas dos vários estados. Há um primeiro resultado, que é a estabilidade monetária, que não é forte, mas é importante. A segunda coisa é que por 60 anos, pela primeira vez, não tivemos guerra entre os países. Outra coisa importante é que há muitos deslocamentos de pessoas de um país para o outro.
Mas a extrema-direita não quer um estrangeiro disputando seu mercado de trabalho...
A Europa é muito rica e se aproveitou da África por muitos séculos. A imigração é perigosa, causa centenas de mortes. E quando os imigrantes chegam, sofrem uma situação terrível.
E o que fazer com a África?
É necessário desenvolver a África, esta é a única solução. E isso depende de apoio do mundo ocidental. É como no Brasil. A violência é entre ricos e pobres, não é entre o Brasil e o exterior. É a mesma diferença entre a África e a Europa, que estão separadas pela distância de uma ilha.
O sr. escreveu que o comunismo perdeu, e o capitalismo não venceu. O mundo financeiro está vencendo?
Sim, está vencendo, mas isso é uma doença do capitalismo, não é um ponto de força, é uma fraqueza. Porque o comunismo sabia distribuir a riqueza, mas não sabia produzir. O capitalismo sabe produzir, mas não sabe distribuir. Hoje, no mundo, há 85 pessoas que tem mais riqueza do que outras 3,5 bilhões de pessoas. Isso não é capitalismo, porque 85 pessoas, ricas, podem consumir uma Ferrari, um iate, mas 3,5 bilhões podem consumir 3,5 bilhões de sapatos.
Mas não há só empresários financeiros nesses 85...
Há três italianos, e todos são do setor produtivo. Há a dona da Prada (Miuccia Prada), um fabricante de óculos (Leonardo Del Vecchio) e o Ferrero (Pietro Ferrero Jr.), que produz a Nutella. Esse mundo é muito louco, com Nutella, se consegue ser um dos homens mais ricos do mundo... não por salvar vidas humanas, ou fazer grandes invenções, como Leonardo Da Vinci, mas por fabricar Nutella... (risos).
Como, diante de tantos problemas, pensar que o ser humano, aos 50 anos, já pode parar de trabalhar e se dedicar a uma vida de lazer?
Li um artigo que dizia que eu quero um mundo de ócio, viver como vivem os índios. Ócio criativo é outra coisa! É o que estamos fazendo aqui — trabalho, estudo, troca de ideias. Isso é ócio criativo, não é não fazer nada. E os índios não ficavam fazendo nada. Eles tinham um ritual estético que é muito importante, tão importante quanto o de Giorgio Armani. Cuidavam do corpo, todos os dias, pintavam o corpo da pessoa amada, porque entendiam que a arte é tão importante que não podia ser feita por qualquer artista. Os índios não eram preguiçosos, eles trabalhavam. Não faziam é atividades remuneradas, porque tinham a natureza, a caça, a pesca. Mas não eram ineficientes.
Um das críticas é que o sr. estaria numa linha de pensamento contrária à produtividade, quando um dos maiores problemas da economia brasileira é a baixa produtividade do trabalho...
Eu sou a favor da maior produtividade do trabalho! Que seria usar mais o computador, por exemplo, e menos o trabalho braçal. Isso é ócio criativo, fazer só o trabalho criativo. O trabalho braçal fica a cargo do computador, do robô. São Paulo é pela baixa produtividade, porque a cidade construiu as empresas e escritórios a 4 horas de carro para as pessoas chegarem lá. Mas a produtividade física tem que ser da máquina, não do homem. O homem tem que ter a produtividade de ideias.
O sr. fala também que o brasileiro se preocupa muito com o corpo, que é hedonista...
Veja, todas as horas, de dia e de noite, o tempo todo, tem gente correndo na Praia de Ipanema. O brasileiro ama o corpo.
Mas os americanos também...
Não como aqui, nos EUA não tem um Ivo Pitanguy. Há um motivo para os brasileiros amarem o corpo. Porque o brasileiro era um povo majoritariamente de escravos, e a única propriedade que o escravo tinha era seu corpo, que precisava ser belo, forte, saudável. É essa a herança.
O índio também era saudável...
Mas não cuidava tanto de seu corpo. As pessoas deviam ler os livros de Darcy Ribeiro. Ele escreveu cinco volumes, que eu li e conheço muito, e ele explica bem. Diz que na cultura e no caráter brasileiro há três matrizes. A matriz portuguesa, que habituou o brasileiro à aventura e ao aprendizado; a indígena, que o habituou à estética e à harmonia com a natureza; e a africana, que o habituou à musicalidade e ao sincretismo. E eu acrescento uma quarta, que é a matriz internacional, que veio dos alemães, dos japoneses, italianos, poloneses, franceses, que deram um caráter universal à matriz brasileira. Eu não disse que os índios deram a matriz do ócio, da ineficiência. Há muitas matrizes, mas não a da indolência. Neste momento, em todo o mundo, há um grande movimento pela lerdeza, slow food, slow tourism, slow sex, tudo slow, contraposto à velocidade. Porque durante a sociedade industrial, a eficiência e a produtividade derivavam da velocidade. Hoje a velocidade é feita pelas máquinas, a nossa produtividade é de ideias.
E a questão da velhice? Mais pessoas estão vivendo mais, aumentando os custos da previdência para os governos...
Por que mais previdência? Por que as pessoas têm que parar de trabalhar? Por causa da lei? Esse é o modelo industrial, que está errado, é um modelo louco. O mercado de trabalho vai mudar, é uma necessidade. As pessoas têm que continuar trabalhando e serem produtivas. Quem faz um trabalho mental, como um jornalista ou um professor, deve continuar a trabalhar. Por que parar?
Mas a realidade não é assim...
A realidade não me interessa, a realidade é uma loucura, e vai mudar, vai ter que mudar. Quer dizer que aos 60 anos eu sou um jornalista e não devo mais escrever? Sou um professor e não devo mais ensinar? Um filósofo e não devo mais pensar? Então, devo estar disponível para morrer aos 55 anos?
O sr. escreveu sobre a era de Adriano, quando não havia mais deuses, ainda não havia Jesus Cristo e havia apenas o homem. Vivemos um momento parecido?
Veja o Brasil. Não há mais o modelo europeu, não há mais o modelo americano, e não há ainda um novo modelo. Seria uma loucura, hoje, copiar o modelo americano ou o modelo europeu.
Há algum modelo a ser copiado?
Não! É fato! É necessário criar um modelo. Pela primeira vez, o Brasil deve criar um modelo. Copiou por 500 anos, mas não é possível continuar copiando.
Essa lógica valeria para os demais países emergentes?
A China e a Índia estão criando seus modelos. Mas é errado criar só um modelo indiano, um chinês, um brasileiro, é necessário criar um modelo universal.
Falando sobre economia, estamos saindo de uma crise...
Não estamos! Isso não é uma crise. O que é uma crise? Crise é uma doença passageira, que se toma um remédio e passa. Isso não é uma crise, é uma redistribuição mundial da riqueza. Que não é rápida, pode durar dois, três, cinco séculos. A China e o Brasil crescem; Estados Unidos, Itália e França, decrescem. A China tinha uma renda per capita de US$ 1 mil; na Itália era de US$ 30 mil. A renda per capita na Itália passou para US$ 3,6 mil, na China foi para US$ 4 mil. É uma redistribuição da riqueza, não é crise, é uma coisa completamente diferente.
O sr. acha que os EUA continuarão a ser um país hegemônico nos próximos anos?
Os Estados Unidos já têm uma hegemonia científica há mais de 50 anos. É o país que mais produz patentes no mundo. Tem as melhores universidades, os melhores institutos de pesquisa e o maior número de patentes. Essa é a hegemonia americana.
Mas eles vão manter essa hegemonia?
Por ora, vão. Porém, a China já é a terceira no mundo em biotecnologia, e a primeira em nanotecnologia. Se olharmos o PIB da Itália nos últimos 60 anos, é uma curva descendente. O dos EUA, têm crescimento estável. Já a China, vem aumentando seu ritmo de crescimento ano a ano. Na lista dos dez países com maiores taxas de crescimento do mundo de 1982 a 1987, elaborada pelo FMI, tínhamos Estados Unidos, Japão, China, Reino Unido, Brasil, Índia, Alemanha, Coreia do Sul, Itália e Canadá. E agora, na previsão de 2012 a 2017, o ranking traz China, EUA, Índia, Brasil, Rússia, Indonésia, Coreia do Sul, México, Japão e Turquia. Repare que na nova lista não tem nenhum país da velha Europa. Quando me perguntam por que eu sou otimista com o Brasil, eu respondo: vejam os dados estatísticos.
Quais são os aspectos negativos que o sr. vê no atual modelo brasileiro?
Há a violência, a corrupção, o analfabetismo, a divisão desigual da riqueza e a infraestrutura. É uma loucura que, para ir do Rio de Janeiro, 16 milhões de habitantes, a São Paulo, com 43 milhões, tenhamos que viajar de avião. Não há trem, é uma loucura, é a distância Roma-Bolonha, que fazemos em duas horas, de maneira cômoda.
E o que tem de bom no modelo brasileiro?
A miscigenação é o principal valor do Brasil. “É tudo mestiço”, já dizia Oscar Niemeyer, “sou brasileiro, português, espanhol, alemão, italiano, sou, portanto, mestiço, como são mestiços a maioria dos meus irmãos brasileiros”. Esse é o aspecto mais forte. Porque todo o mundo vai virar mestiço. Os africanos vão para a Itália, os paquistaneses vão para o Afeganistão, os afegãos vão para a Índia, todo o mundo vai se misturar. A miscigenação é um fator fundamental. O outro aspecto positivo é a estética. Há também o crescimento da escolarização, o Brasil tem ótimas universidades.
E a educação é um dos setores mais criticados aqui, dizemos que é um setor muito atrasado...
Não é atrasado. É atrasado em relação aos Estados Unidos, mas não é atrasado em relação ao Brasil de 10, 20 anos atrás. Melhorou. Tem ainda as boas experiências de gestão empresarial, há muitas experimentações interessantes sendo realizadas no Brasil neste momento.