segunda-feira, 31 de março de 2014

O que resta da transição: entrevista do Gabriel Fabri com o cientista político Milton Pinheiro

Transcrevo abaixo excelente entrevista com o cientista político Milton Pinheiro, organizador do recém lançado "Ditadura: o que resta da transição", pela editora Boitempo. Notem que o entrevistador é "nosso" Gabriel Fabri!


Link: http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/50-anos-golpe-e-preciso-completar-transicao-democratica/



50 anos do golpe: “É preciso completar a transição democrática”




Gabriel Fabri

Nos 50 anos do golpe militar, o livro “Ditadura: o que resta da transição” (Boitempo) traz 12 ensaios de pensadores como João Quartim de Moraes, Anita Prestes, Lincoln Secco, Décio Saes, Marco Aurélio Santana, entre outros. A coletânea, lançada neste mês, é organizada pelo cientista político Milton Pinheiro e traz um olhar crítico sobre as dinâmicas de poder no regime militar desde o contexto por trás do golpe até a campanha das “Diretas Já”. Em entrevista à Fórum, Pinheiro destaca quais características dos anos de chumbo ainda permanecem na sociedade brasileira. Para o cientista político, as continuidades do regime são “imensamente maiores” do que as rupturas. Confira a entrevista a seguir.

Fórum – Quais são as peculiaridades da transição brasileira para a democracia?

Milton Pinheiro – Ela é, em linhas gerais, sue generis. No Brasil, foi produto de uma articulação pelo alto, por aquilo que nós conhecemos na ciência política como via prussiana. Trata-se de um acordo de segmentos da burguesia para superar o regime autoritário, não no sentido de atender às demandas sociais e populares, mas especialmente para fazer avançar uma forma de gerência econômica que trouxesse uma extração maior de riquezas para esses setores e marcasse um modelo de desenvolvimento para o Brasil.

Fórum – O que implica para a democracia o fato de a transição ter sido feita com o auxílio do regime?

Milton Pinheiro – A democracia formal brasileira é marcada essencialmente por traços longevos de autoritarismo. O Brasil do século XX foi um país bastante movimentado na década de 1910, que viveu longo período de Estado de Sítio na década de 1920, depois teve uma ditadura por 15 anos (se contarmos todo o governo Vargas), um breve intervalo democrático e voltou a uma ditadura em 1964. Você pode entender de certo modo que a tutela de amplos setores do empresariado brasileiro, basicamente o financeiro e o industrial, em consonância com os militares dirigidos pela doutrina de segurança nacional, pautou esse tipo de sociedade autoritária, esse modelo de democracia formal. O Brasil é um país emblematicamente marcado pelo autoritarismo e por um modelo de transição sempre articulado pelos setores políticos de uma classe social, no caso a burguesia. Poderíamos dizer que há um eterno pacto de elites para governá-lo.

O fato de a transição ter tido a participação do regime militar, e ter sido articulada com setores moderados da política brasileira, vai deixar um caldo de cultura que sempre possibilita um acordo para resolver problemas. Então, quando se quer modificar a Constituição, fazem um acordo o governo, setores empresariais e o parlamento, agindo sempre em contradição com os interesses da sociedade e dos trabalhadores. Esse modelo de negociação pelo alto é a principal implicação dessa articulação, que contou anteriormente com a presença do regime para resolver os impasses políticos no País. Ocorreu dessa forma durante o governo Sarney, no impeachment de Collor – com ampla pressão de massa, porém – e nas mudanças constitucionais que Fernando Henrique e Lula fizeram. Trata-se sempre de uma articulação pelo alto de setores da elite brasileira e de seus parlamentares representativos.

Fórum – O prefácio de Marcos Del Roio classifica o regime militar como uma ditadura de classe “militar burguesa”. Já a democracia brasileira é classificada como “novo regime de dominação burguesa”. Como se deu a construção dessa hegemonia, processo que o autor chama de “revolução passiva”?

Milton Pinheiro – A transição brasileira vai espalhar suas características culturalmente por um longo tempo na sociedade brasileira. Esse tipo de situação, chamada por ele de “revolução passiva”, através dos estudos do pensador Antonio Gramsci, denota sempre o controle das elites sobre o Estado brasileiro e, ao mesmo tempo, a liberalização de pequenas reformas que atendam minimamente questões cruciais da população. Essa é uma forma de conter o avanço dos trabalhadores nas lutas por questões mais imediatas, para que eles não tomem medidas radicais.

Fórum – Na prática, as continuidades do regime militar seriam maiores que as rupturas?

Milton Pinheiro – As continuidades são imensamente maiores. Nós não temos um corte, em nenhum seguimento da vida nacional, que denotasse uma ruptura. Pelo contrário, temos o aprofundamento da continuidade: o que tinha de extremamente positivo na Constituição de 1988 foi modificado, como as reformas da previdência, que foram feitas para atacar os interesses dos trabalhadores, e a precarização de trabalho em legislação, que aumenta a jornada. As continuidades são profundamente maiores e temos como afirmar a partir de diversos exemplos.

Fórum – E quais seriam esses outros exemplos?

Milton Pinheiro – O ataque à liberdade de manifestação. O cidadão que anteriormente poderia ir à rua manifestar contra qualquer questão que atacasse seus direitos ou sua liberdade de pensamento, hoje, por essa nova lei em discussão no Congresso, vai ter que marcar o dia, ter um local específico e pedir autorização. Isso não é só uma continuidade, mas sim um retroagir das liberdades democráticas nesse País.  Também vale para os diversos decretos-lei baixados pela Presidente da República e, de certo modo, para a autonomia que os governadores têm em relação a isso. Por exemplo, o Cabral criou, a partir de decreto, a possibilidade de prender em casa aqueles que acha que é inimigo do Estado nas manifestações no Rio de Janeiro. E o Alckmin, em São Paulo, também achou por bem criar decretos semelhantes a esse. Tudo isso como caldo de cultura retroalimentando o que se tinha na ditadura militar.

Fórum – O senhor inicia o seu artigo no livro com a seguinte frase de Johann Wolfgang von Goethe: “Quem desconhece o passado condena-se a repeti-lo”. Ainda há muita desinformação em relação ao período militar?

Milton Pinheiro – Sim, o brasileiro tem com a memória uma parca relação. Parece que ela é da era digital: você tem um “delete” que funciona numa violência tão grande que, em questão de pouco tempo histórico, já se desconhece profundamente o que se teve. Acho que o brasileiro mediano desconhece o que ocorreu com a ditadura militar. Veja essas marchas que foram convocadas para comemorar o golpe de 1964…

É uma falácia profunda dizer que no tempo da ditadura era melhor que hoje. Foi um período de trevas, quase que medieval. É importante redescobrir esse momento para entender a sua violência e a sua iniquidade. O Estado nunca matou tanto oponente político como entre 1964 e 1985. E essa impunidade dos crimes do Estado brasileiro hoje, em especial pela ação da polícia militar, é reprodução, em outro estágio, da violência da ditadura, quando não pune os seus prepostos. Veja recentemente o caso daquela senhora Claudia, baleada e depois arrastada pela via pública no Rio de Janeiro, e o do Amarildo.

Fórum – A solução desse problema com a polícia estaria na sua desmilitarização?

Milton Pinheiro – Essa é uma boa proposta, é uma saída circunstancial. Mas o Estado brasileiro tem como característica a violência. Nos seus primórdios, contra o negro, o pobre e a mulher. No seu intermediário, contra os trabalhadores que se levantavam para conseguir direitos básicos que existiam em outras partes do mundo. E hoje, a violência do Estado é contra todos que querem se manifestar para defender alguma coisa. Existe uma criminalização dos movimentos sociais e dos direitos civis.

Fórum – Quais aspectos da transição democrática o senhor considera crucial debater na atualidade?

Milton Pinheiro – É urgente rediscutir, a partir da Comissão Nacional da Verdade, a questão da Lei da Anistia. É necessário revê-la para punir os terroristas e assassinos que mataram, torturaram, prenderam e exilaram milhares de pessoas, inclusive alguns que têm os corpos desaparecidos até hoje, durante os 21 anos da ditadura. Estou falando do aparato das Forças Armadas, o aparato policial militar a serviço do Estado.

Fórum – Afinal, o que falta para que o Brasil complete a sua transição democrática e supere a herança da ditadura?

Milton Pinheiro – Para completar a transição e superar a ditadura, o Brasil precisaria ser um outro país. Mas podemos afirmar que ao lutar para vencer a lógica do regime militar e para suplantar essa nova norma social e política que nós temos, já estamos lutando por um outro sistema político. Falta muita participação dos trabalhadores, da juventude e da população em geral para superar isso e construir uma sociedade diferente, minimamente emancipada da iniquidade social que o capitalismo nos impõe.

Circule pelo centro de São Paulo à noite e você vai ver a extrema pobreza de mendigos, drogados, seres humanos abandonados. Para além de tudo isso que falei, as questões que dizem respeito aos serviços públicos, relações de trabalho, manifestações de trabalhadores e da juventude, ainda tem algo que é típico da iniquidade do capitalismo: a miséria social, a prostituição, a mendicância em via pública, o não ter comida, o não ter onde morar e o não ter como sobreviver. Tudo isso gera o caldo de cultura para a barbárie que nós conhecemos. O Brasil de hoje, para o desconforto da mídia, e talvez do governo, se avançou para resolver alguns problemas gerais, perdeu-se evidentemente no varejo das necessidades humanas.

Fórum – No mesmo ano em que se completam cinco décadas do golpe é também um ano de eleições. A proximidade dessas duas datas deve trazer as heranças ditadura para o debate eleitoral? Quais questões deveriam ser trazidas à pauta?

Milton Pinheiro – É um ano importante não só porque devemos lembrar o que ocorreu há 50 anos, mas também porque é um ano com um impacto político muito forte. O principal desse impacto é o que restou das manifestações de 2013, das gigantescas participações populares, independente do seu conteúdo. Muita coisa ruim teve na rua, de skinhead a nazista, mas tiveram as manifestações marcadas pela grande presença popular, de juventude e trabalhadores precarizados, cuja pauta não é por questões históricas e sim por serviços públicos de qualidade, principalmente a questão de transporte.

Ao lado disso tudo se apresenta um processo político eleitoral, que coloca de um lado o governo, com o seu processo de continuidade e com muitos problemas, inclusive porque não resolveu pontos cruciais do atendimento às necessidades da população. Em outro campo, uma direita política extremamente reacionária e sem capacidade de responder às demandas solicitadas pelo povo, mas que tem uma presença de mídia muito importante. Dissonante a esses dois campos, há partidos de esquerda e movimentos sociais que vão lançar candidaturas para marcar uma posição, no sentido de registrar a defesa de interesses clássicos dos trabalhadores e da população em geral.

Como se esse cenário não fosse suficiente, ainda temos grandes eventos esportivos, com manifestações muito grandes, algumas a favor, outras contra, em especial por causa das dificuldades impostas sempre aos mais pobres em virtude desse negócio extremamente comercial que se transformou a Copa do Mundo no Brasil. A Copa é, na minha concepção, um empreendimento para as elites continuarem tendo um lucro extraordinário em parceria com o Estado brasileiro.

sábado, 29 de março de 2014

Escaladas bélicas e teoria dos jogos: os casos do Irã e da Crimeia

A teoria dos jogos, um dos eixos da teoria da escolha racional, é especialmente utilizada para entender e até prever interações entre países. A situação mais corriqueira é a análise de situações de conflito, especificando os interesses de cada ator neste. Vale lembrar que o momento de "boom" dessa teoria foi justamente a Guerra Fria, no cenário de tensão permanente entre dois superpoderes geopolíticos.
Recupero abaixo um link para uma matéria de um jornalista do Estado de São Paulo, o Guga Chacra, sobre o xadrez internacional em torno do Irã, escrita em 2009. O texto ressalta o caráter "preditivo" dos jogos estratégicos. Leia aqui
A tensão na Ucrânia, no que diz respeito à anexação da Crimeia pela Rússia, foi também investigada à luz da teoria dos jogos. Uma conclusão bastante preocupante foi apresentada pelo analista Tyler Cowen, em The New York Times (aqui). Ele diz que há potencialmente dois equilíbrios (de Nash) nas relações internacionais: paz global ou escalada bélica. A situação na Ucrânia, que poderia levar a uma perda de confiança na solução diplomática de conflitos internacionais, poderia contribuir com essa escalada, quiçá desencadeá-la. A análise de Cowen, da qual copio trechos abaixo (em inglês), se sustenta em um raciocínio teórico apresentado pioneiramente por Thomas C. Schelling, laureado do Nobel em 2005.

Trecho do artigo "Crimea Through a Game-Theory Lens", de Tyler Cowen, em The New York Times, 15 de março de 2014. Fonte: www.nytimes.com

quinta-feira, 27 de março de 2014

Leituras para 2 de abril

Os textos para a aula sobre classes sociais e interesses materiais são possivelmente os mais difíceis com os quais trabalharemos no semestre. A noção de classe social é bastante controversa e no texto de minha autoria há uma abordagem específica, baseada na ideia de que classes se sustentam de maneira relacional, tendo como chave analítica e definidora o conceito de exploração. O texto de Offe e Wiesenthal é uma leitura exigente; o fio norteador para nossa aula é entender por que trabalhadores e donos dos meios de produção (capitalistas) enfrentam dilemas e dificuldades diferentes no momento de agirem em defesa de seus interesses. Se entendermos isso, teremos conseguido "provar" a relevância da análise de classe para dar conta de interações e estratégias sociais.

-- Claus Offe e Helmut Wiesenthal, Duas lógicas da ação coletiva, disponível aqui.
-- João Alexandre Peschanski, "Classes sociais e mercado de trabalho", disponível aqui.

Claus Offe é um pensador instigante, autor de uma obra monumental, versando sobre teoria política. Além desse escrito de grande influência que lemos para a aula sobre o capitalismo, eventualmente o leremos também sobre o Estado e o poder. Há obras dele disponíveis na biblioteca e recomendo vivamente a leitura a quem quiser aprofundar-se sobre a maneira como as relações econômicas têm impacto na política, especialmente quando as relações econômicas não são carcomidas por corrupções e desvios.

Copio abaixo trechos de um artigo que comenta os argumentos principais de Offe e Wiesenthal, no texto que temos para ler. No fim dos trechos, há um último parágrafo de minha autoria. O autor do artigo é Alvaro Bianchi, professor de Ciência Política da Unicamp, em sua contribuição crítica ao debate sobre ações econômicas “Empresários e ação coletiva: notas para um enforque relativo” (Revista de Sociologia e Política 28, 2007):


[...] esses autores rejeitam uma “teoria geral da ação coletiva”, destacando a necessidade de diferenciar as lógicas próprias de cada grupo social. [...] Para além das semelhanças formais entre associações de empresas e sindicatos operários, esses autores procurarão apontar a diferenciação de classe específicas dos respectivos tipos de fatores input (o que precisa ser organizado) e a natureza dos outputs (condições de sucesso estratégico que precisam ser alcançadas no meio ambiente das organizações).
[...] O capital tem como necessidade combinar o trabalho e os bens de capital, a fim de produzir mais-valia. Ambos os elementos consistem em trabalho social, mas, enquanto um é o resultado de trabalho passado (“trabalho morto”), o outro é força de trabalho como potência presente. Combinar este último, que não é separável dos portadores da força de trabalho, com os demais “fatores de produção” consiste no problema fundamental com o qual o capitalista tem de lidar.
Tal diferença está no fato de que o trabalho pode ser feito somente pelo trabalhador, apesar de ele “pertencer”, legalmente, ao capitalista. Cada trabalhador controla somente uma unidade de força de trabalho que a vende sob condições de concorrência com outros trabalhadores que fazem o mesmo. A força de trabalho viva é simultaneamente viva e não divisível (possui uma individualidade insuperável, na medida em que é “possuída” e controlada por indivíduos discretos). O capital, por sua vez, compreende muitas unidades de trabalho “morto” sob um comando unificado. [...] Não podendo fundir-se, os trabalhadores, no máximo, conseguem associar-se para compensar parcialmente a vantagem de poder do capital. 
O que Offe e Wiesenthal mostram é que atores econômicos, dependendo de suas classes, podem ter diferentes qualidades – “essências”, segundo Bianchi –, o que afeta seus interesses e capacidades. Há problemas diferentes para capitalistas e trabalhadores na compreensão de seus interesses materiais. Para os capitalistas, os interesses são evidentes, “a necessidade [de] combinar o trabalho e os bens de capital, a fim de produzir mais-valia”. Todo cálculo racional dos capitalistas segue, portanto, esse único critério, a maximização da produção de mais-valia. No caso dos trabalhadores, que “possu[em] uma individualidade insuperável, na medida em que é ‘possuída’ e controlada por indivíduos discretos”, há uma miríade de interesses, na medida em que “cada trabalhador controla somente uma unidade de força de trabalho”, que é “simultaneamente viva e não divisível”, e os trabalhadores precisam desenvolver canais de comunicação para chegar à compreensão de seu interesse material como um coletivo. Os trabalhadores só conseguem agir, pelo menos inicialmente, quando superam o estágio do egoísmo e cooperam, estabelecem formas de solidariedade, dialogam. Do mesmo modo, as capacidades de luta de capitalistas e trabalhadores diferem: os primeiros precisam apenas mobilizar recursos financeiros para tentar maximizar seus interesses; os segundos precisam mobilizar pessoas, como o que ocorre em greves, o que cria toda sorte de dilemas variados, já que, em muitos casos, isso envolve riscos aos que participam de lutas em defesa dos interesses dos trabalhadores.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Slides da aula de 26 de março

Aqui estão os slides da aula de 26 de março, em que abordamos a definição e o impacto da propriedade privada e começamos a discutir as alternativas às instituições que sustentam o capitalismo

Por favor, avisem-me por email: japeschanski_at_casperlibero.edu.br , se estiverem com problema para ver esse ou outro documento colocado no blog.

Até a semana que vem!





domingo, 23 de março de 2014

A "guerra" cooperativa na Crimeia

A que país pertence a Crimeia? A questão movimentou os primeiros meses de 2014 e, enquanto líderes de potências mundiais se estranhavam sobre isso, colaboradores do Wikipédia não deixavam por menos. Até 19 de março, 18:26, havia pelo menos 75 revisões no verbete "Crimeia" na página da Wikipédia em português na última semana e uma ampla discussão entre editores para decidir o país ao qual o território pertencia. Na edição francesa da enciclopédia, o número de alterações chegava a mais de 500, num contexto de discussão bastante agressiva. Fica claro um dos grandes desafios de fazer uma enciclopédia atualizada e colaborativa: chegar a um consenso.

sábado, 22 de março de 2014

Quando os mais fracos têm vez: a interação estratégica entre um líder fraco e oponentes fortes, o caso do Haiti

No artigo neste link aqui (em inglês), utilizo os insights da teoria da escolha racional para entender a consolidação do poder do ditador haitiano François Duvalier, no Haiti, nos anos 1960 e 1970. A questão que me coloco é: como foi possível que um político que não era poderoso, pelo menos não tanto quanto a soma de poder de seus oponentes, que controlavam setores importantes do exército, foi capaz de vencer seus oponentes e estabelecer um regime autoritário centralizador? Por que os oponentes não colaboraram e o eliminaram antes, se ele era uma ameaça?

Vocês verão que há toda uma discussão matemática (formal) envolvida para indicar a probabilidade de jogadores não colaborarem quando estão ameaçados, mesmo quando a colaboração é a única forma possível de vencer o jogo. As regras do jogo estratégico aqui levam em consideração duas características que não encontramos no Dilema do Prisioneiro, tornando-o de certo modo um jogo menos simples: um ambiente onde as informações são incertas e há sequências de ações (jogador 1 tem a primeira rodada, daí é a vez do jogador 2).

Abaixo, a representação formal desse jogo estratégico, no formato conhecido como "jogo estendido".




sexta-feira, 21 de março de 2014

Leituras para 26 de março


As leituras para 26 de março são:

-- Yochai Benkler, "Saber comum: produção de materiais educacionais entre pares". Disponível aqui.
-- João Alexandre Peschanski, "Origem do capitalismo e propriedade privada". Disponível aqui.

Yochai Benkler é um dos principais teóricos da alternativa ao capitalismo. Seu principal livro, The Wealth of Networks (A riqueza das redes), tornou-se uma referência importante tanto nas ciências sociais quanto na produção econômica não capitalista, como o software livre.

Yochai Benkler, em 2007. Fonte: Joi Ito/Wikimedia Commons

Aqui vai o link para uma entrevista que ele concedeu em 2009 à revista Época:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT53938-15228,00.html

Aqui vai o link para uma palestra curta, no formato "TED talk", em inglês:
http://www.ted.com/speakers/yochai_benkler

Aqui vai o link para o livro The Wealth of Networks, em inglês, distribuído pelo próprio autor. A tradução para o português é feita de modo cooperativo, e o link também segue:
http://www.benkler.org/Benkler_Wealth_Of_Networks.pdf
http://cyber.law.harvard.edu/wealth_of_networks/A_Riqueza_das_Redes_-_Cap%C3%ADtulo_1

quinta-feira, 20 de março de 2014

Tarefa 1 do Projeto Wikipédia: criar uma conta de usuário

Damos início a nosso Projeto Wikipédia! Vale lembrar que a realização por completo do projeto tem impacto direto na nota do segundo bimestre. Além da pressão da nota, espero que se interessem por essa forma "alternativa" de avaliação.

A primeira tarefa do Projeto Wikipédia é criar uma conta de usuário. Isso é importante, pois me permitirá acompanhar a evolução de seu trabalho. Sempre esteja registrado (logado) antes de fazer qualquer atividade para o curso, pois, se não o fizer, não haverá rastro de seu trabalho que eu consiga identificar.

Aqui há um link que explica como criar as contas além de outras informações úteis.

Aqui está o link para a criação da conta.

Assim que tiver criado a conta, entre no documento de controle, de acordo com a sua sala, daí coloque seu número de matrícula (não ponha seu nome) e, ao lado, seu nome de usuário e o link para sua página de contribuições. Há um exemplo.

3JOA

3JOB

3JOC

3JOD

Qualquer dúvida, entre em contato por correio eletrônico: japeschanski_at_casperlibero.edu.br

quarta-feira, 19 de março de 2014

Slides da aula de 19 de março

Seguem aqui os slides da aula de 19 de março, que traz uma rabeira da aula anterior, além  de uma definição institucional do capitalismo e defesas e críticas desse modo de organizar a economia.

Por favor, avisem-me por email: japeschanski_at_casperlibero.edu.br , se estiverem com problema para ver esse ou outro documento colocado no blog.

Não se esqueçam da tarefa do Projeto Wikipédia! Instruções em post, amanhã.

Até a semana que vem!

terça-feira, 18 de março de 2014

Livros sobre a ditadura

Para quem se interessar, a Editora Zahar promove o lançamento de três livros sobre a ditadura no Brasil. São obras de destacados cientistas sociais. Abaixo, o convite eletrônico do lançamento. Evidentemente, os livros têm a ver com a temática de nosso Projeto Wikipédia.

Convite de lançamento de livros sobre a ditadura militar. Fonte: Editora Zahar

quinta-feira, 13 de março de 2014

Aplicativo de dilema do prisioneiro

Este site aqui traz um aplicativo de dilema do prisioneiro (em java), em que você decide, em jogos com pessoas de variadas personalidades (alguns cooperativos, outros individualistas), se você joga de maneira cooperativa ou individualista.

Aplicativo de Dilema do Prisioneiro, versão com repetições e variação de personalidades.
Fonte: www.gametheory.net


Com cada jogador você interage vinte e cinco vezes. As repetições do jogo -- as 25 rodadas -- têm impacto no modo como você atua. Por exemplo, você pode adotar uma estratégia específica durante vinte e quatro rodadas e, daí, na última, como o jogo vai acabar, mudar a estratégia. Divirtam-se!


quarta-feira, 12 de março de 2014

Slides da aula de 12 de março


Olá pessoal! 
No link abaixo está a aula de hoje (12 de março de 2014), para quem quiser fazer o download. Está salvo num arquivo eletrônico seguro -- se aparecer uma mensagem de erro, por favor, apertem continuar. Podem confiar!

https://files.numec.prp.usp.br/data/public/9af04d.php

Por favor, avisem-me por email: japeschanski_at_casperlibero.edu.br , se estiverem com problema para ver esse ou outro documento colocado no blog.
Na aula de hoje, só fizemos um dos dois "jogos estratégicos" da aula, o Dilema do Prisioneiro. No PDF, há um outro desses jogos, a Tragédia dos Comuns, que já podem ver e sobre o qual falaremos na próxima aula.
Até mais,
João Alexandre




sexta-feira, 7 de março de 2014

Leituras para 19 de março

As leituras obrigatórias para 19 de março são:

-- a seção "Burgueses e proletários", de Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels; e
-- o capítulo "Capitalismo, uma definição", de Capitalismo, uma introdução (título provisório), de João Alexandre Peschanski. Disponível para download aqui. (No cabeçalho do texto, meu email está errado: o correto é japeschanski_at_casperlibero.edu.br . Vou corrigir assim que der, mas fiquem atentos.)

A edição sugerida do Manifesto Comunista é a da Boitempo Editorial, organizada por Osvaldo Coggiola e traduzida por Álvaro Pina, originalmente publicada em 1998, com várias reimpressões. O livro pode ser adquirido aqui. O Manifesto Comunista é um livro clássico, de fundamental importância na tradição intelectual ocidental, e recomendo a compra da edição da Boitempo Editorial por ser uma versão cuidadosa e trazer textos de apoio úteis. Nessa edição, a seção "Burgueses e proletários" vai da página 40 à 51.

Para aqueles que preferirem não comprar o livro, há várias versões on-line em português, cuja qualidade não é garantida. Abaixo, três dessas versões.

http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf
http://www.pstu.org.br/sites/default/files/biblioteca/marx_engels_manifesto.pdf
http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/


Capa do Manifesto Comunista, de 1848. Fonte: Wikimedia Commons.


Abaixo, uma leitura complementar, para quem quiser se aprofundar sobre o Manifesto Comunista.

José Paulo Netto, "Elementos para uma leitura crítica do Manifesto Comunista", em Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto Comunista, São Paulo, Cortez Editora, 1998. Disponível aqui

José Paulo Netto é um dos principais estudiosos da tradição marxista no Brasil e apresenta na primeira parte desse ensaio o contexto histórico e político da redação do Manifesto Comunista. Marx e Engels escreveram esse documento como programa político da Liga dos Comunistas, originalmente publicado em 1848, quando eclode a Primavera dos Povos, um importante conjunto de manifestações operárias e urbanas que assolou a Europa por vários meses. O restante do ensaio apresenta principalmente as contribuições filosóficas e o arsenal teórico do Manifesto Comunista e, até pela temática abordada, é uma leitura difícil. O fim do ensaio discute o Manifesto sob um olhar contemporâneo, que, entre outros apontamentos, avalia o legado do texto clássico na situação atual do mundo do trabalho e da globalização.