quarta-feira, 30 de abril de 2014

Leitura para 14 de maio

A segunda leitura sobre democracia aborda os dilemas específicos que a disputa pelo voto em competições livres pelo governo colocam para partidos de esquerda, especialmente socialistas e comunistas. O autor do artigo, o cientista político Adam Przeworski, tem uma obra vastíssima, em que reúne preocupações de esquerda com métodos avançados de ciência política.

Notem que temos duas semanas para essa leitura, já que haverá atividades especiais em 7 de maio.

O texto que leremos, "A social-democracia como fenômeno histórico", está disponível no link abaixo:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451988000200004

Slides da aula de 30 de abril

Aqui estão os slides da aula de 30 de abril, a primeira da temática do segundo bimestre, a democracia. Há uma discussão sobre a noção "ideal" (ou profunda) e a "elitista" (ou metodológica) da democracia, a partir do texto Schumpeter. É uma aula de base para o bimestre, assim que recomendo uma leitura atenta do texto indicado e a revisão dos slides.

Em caso de dúvida ou problema, entrem em contato comigo, por correio eletrônico: japeschanski_at_casperlibero.edu.br .

Até a semana que vem!

Almino Afonso no Roda Viva

Recomendo vivamente a entrevista do ministro do Trabalho de João Goulart, Almino Afonso, no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 31 de março. O link vai abaixo. O que mais me chamou a atenção nesse belo documento de quem viveu um período brutal da história brasileira e tem recuo e clareza suficientes para analisá-lo é a falácia de que, em qualquer grau, Jango colocava em risco o estado de direito democrático e capitalista. Eventualmente, tinha um outro projeto de capitalismo, quiçá mais social, mas a base institucional se mantinha. É um dado relevante para entender a real motivação do golpe.

http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/almino-afonso-fala-sobre-ditadura-militar-no-roda-viva

terça-feira, 29 de abril de 2014

Projeto Wikipédia: lembretes da tarefa 2!

A segunda tarefa do Projeto Wikipédia é para amanhã (30/04)! Não se esqueça de fazê-la! 

1) Não se esqueça de criar um nome de usuário (minha recomendação é que não use seu nome verdadeiro, mas crie um apelido).

2) Não se esqueça de colocar seu nome de usuário e o link para sua página de contribuições no GoogleDoc de sua turma, disponível aqui.

3) Não se esqueça de treinar antes de editar, com as instruções disponíveis aqui.

4) Não se esqueça de ler atentamente as instruções da Tarefa 2 do Projeto Wikipédia, disponíveis aqui.

5) Se por algum motivo você não conseguir fazer a edição a tempo, haverá mais duas semanas para fazer a tarefa. Mas só receberá 0,5 -- em vez de um ponto -- pelo trabalho. O Projeto Wikipédia equivale à principal nota do segundo bimestre.

6) Não hesite em entrar em contato comigo. Ainda dá tempo! japeschanski_at_casperlibero.edu.br

Wiki!

Atividades especiais em 7 de maio

Na quarta-feira, dia 7 de maio, no lugar das aulas normais participaremos de atividades especiais pela manhã e pela noite. São atividades relevantes, diretamente vinculadas a temáticas que exploramos na disciplina de Ciência Política, e, espero, serão de seu interesse.
Haverá marcação de presença (a confirmar).

Manhã, 7 de maio (8h-11h30)
Sessão do Festival In-Edit: "Política, Música e Futebol"
Exibição do documentário “Democracia em Preto e Branco”
Debate com diretor Pedro Asbeg
Mais informações sobre o filme aqui.


Imagem de divulgação do filme "Democracia em Preto e Branco"

Noite, 7 de maio (19h-21h30)


Seminário "Quem mexeu no meu jornalismo?"

Ilustração do seminário "Quem mexeu no meu jornalismo?"


Programação:

Mediador: Guilherme Alpendre, diretor-executivo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)

ABERTURA
Carlos Costa (Casper Líbero) e Maria Elisabete Antonioli (ESPM)

Mesa 1
#financiamento
É possível viver de jornalismo?
Como financiar a produção e circulação de notícias 

- André Deak, Casa de Cultura Digital e professor da ESPM;
- André Santoro, professor do Mackenzie;
- Leonardo Sakamoto, Repórter Brasil, UOL e professor da PUC-SP; 
- Natália Viana, Agência Pública.

Mesa 2
#narrativas
O jornalista morreu? 
O deslocamento da atividade jornalística em uma realidade pós-industrial

- Bob Fernandes, TV Gazeta e Terra Magazine ;
- Elizabeth Saad, professora da ECA-USP;
- José Roberto Toledo, Estado de S.Paulo e Rede TV;
- Renato Rovai, Revista Fórum e professor da Fundação Cásper Líbero.

Serviço: 

Local: Auditório da Fundação Cásper Líbero: Avenida Paulista, 900 
Data: Dia 7 de maio, quarta-feira, das 19h às 21h30
O evento é gratuito e a entrada se dará por ordem de chegada até a lotação do auditório.
Mais informações e confirmação de participação aqui.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Leitura para 30 de abril

A leitura de trechos de Capitalismo, socialismo e democracia, de Joseph Schumpeter, abre nossa seção do curso sobre democracia. Trata-se de um texto clássico, de um autor que de certo modo fundou ou pelo menos encorpou uma tradição de estudos sobre democracia, que poderíamos chamar de "elitista", numa linha conservadora bastante influenciada por Max Weber. Schumpeter foi um dos principais economistas do fim do século XIX e início do século XX, com escritos fundamentais sobre organizações políticas, inovação tecnológica, desenvolvimento e economia política. Esteve envolvido em grandes polêmicas com pensadores da tradição marxista, sempre de maneira respeitosa, sabendo reconhecer, mesmo criticamente, os fundamentos da argumentação das pessoas com quem debatia.
O trecho que selecionei para nossa leitura é forçosamente "datado", com alguns comentários sobre natureza humana que, para nós, contemporâneos, parecem sem sentido e erradas -- e provavelmente o são. Mas espero que consigam tirar da leitura aquilo que realmente importa, reconhecendo o fundamento daquilo que diz sobre o funcionamento das democracias nas sociedades modernas. É uma leitura no geral sombria, pessimista, mas muito "realista".
Na leitura, vejam os elementos com os quais ele descreve o que chama de teoria clássica da democracia (sobre a qual não leremos diretamente) e anotem os elementos principais da definição schumpeteriana, que será nosso ponto de partida para falar de democracia hoje em dia.

Joseph Schumpeter, em foto de 1940. Fonte: Wikimedia Commons.

Para 30 de abril, por favor, leiam os capítulos "A doutrina clássica da democracia" e "Mais uma teoria da democracia", respectivamente os capítulos 21 e 22, na parte IV, de Capitalismo, socialismo e democracia. O livro está disponível integralmente no link abaixo (e recomendo que, além dos trechos obrigatórios, leiam o máximo que puderem, pois é realmente um autor de uma clareza impressionante):

http://www.imil.org.br/wp-content/uploads/2013/01/Capitalismo-socialismo-e-democracia-Joseph-A.-Schumpeter.pdf

Questionário de avaliação do bimestre

Está disponível aqui um questionário anônimo de avaliação do curso de Ciência Política para a Faculdade de Jornalismo, no primeiro bimestre de 2014. Sua identidade está protegida e o objetivo dessa avaliação é dar-me elementos para saber se estou indo num bom ou mau caminho. Por favor, levem a sério essa ferramenta, pois o resultado será levado em consideração.

Reitero que estou sempre aberto para críticas e sugestões. Não hesitem. Meu correio eletrônico é japeschanski_at_casperlibero.edu.br .

Slides e textos de aula de 23 de abril

A aula de 23 de abril conclui a primeira seção da disciplina de Ciência Política para as turmas de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, voltada para discussões em torno das instituições do capitalismo. Nessa aula, aqui, discutimos alternativas institucionais ao capitalismo, em uma atividade de leitura dirigida e compartilhada em aula. Os textos que abordamos vão abaixo.

Boaventura de Sousa Santos, "As formas cooperativas de produção"
João Alexandre Peschanski, "O transporte público gratuito, uma utopia real"
Luis Felipe Miguel, "Renda para todos"
Luis Felipe Miguel, "Socialismo de ações"
Paul Singer, "Finanças solidárias e moeda social"

sábado, 19 de abril de 2014

Artigo de ministro do Planejamento nas gestões Médici e Geisel

O ministro do Planejamento nas gestões Médici e Geisel, o economista João Paulo dos Reis Velloso, publicou em 1o de abril uma coluna na Folha de S.Paulo sobre o modelo econômico e institucional estabelecido a partir do golpe de 1964. O período de exceção foi responsável por um importante reordenamento da burocracia, criando organizações, modificando personalidades jurídicas, estabelecendo novos parâmetros legais. Essa base institucional foi mantida, em grande parte, após o fim do regime de exceção, sendo o "legado" com o qual a democracia tem de lidar.
Detalhe: prestem atenção na última frase do texto.



JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO

TENDÊNCIAS/DEBATES
O ASSUNTO É: A DITADURA MILITAR EM DEBATE
Da modernização às oportunidades
O segredo do "milagre" foi a ênfase dada a setores com boa relação entre produto e capital como bens de consumo duráveis e matérias-primas

Entre 1964 e 1979, o Brasil atendeu à exigência que se impunha: de modernizar-se e reformar-se.

No primeiro momento, houve a reconstrução da economia e a preparação das bases para o crescimento. Isso foi feito, de um lado, por meio da criação de instrumentos como a correção monetária (para reconstruir o sistema tributário e o crédito público, principalmente) e a fórmula salarial (reposição de salários pela média, e não pelo pico).

De outro lado, pela criação de instituições como o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e a reestruturação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além da legislação para o sistema financeiro e o mercado de capitais.

De grande importância foi a aprovação do novo modelo institucional de infraestrutura --energia elétrica e comunicações, principalmente--, que passou a ser realizado por conglomerados estatais e financiado por impostos únicos. E funcionou bem, sem os problemas de hoje.

O segundo momento foi o supercrescimento do "milagre": PIB crescendo, em média, 11% a.a. entre 1968 e 1973; importações, 28%; exportações, 25%. O segredo do "milagre" é que a ênfase foi colocada em setores com alta relação produto/capital: bens de consumo duráveis e matérias-primas.

No terceiro momento, tivemos a reação à crise do petróleo, desencadeada em outubro de 1973, e a abertura política. A crise desmontou o modelo do "milagre" não só porque o Brasil era grande importador de petróleo (85% do que consumia), mas também de matérias-primas em que potencialmente éramos competitivos, como papel e celulose.

A estratégia do II PND (Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento - 1975 a 79) é conhecida: desaceleração gradual, em lugar de recessão. E o grande programa de investimentos em energia (principalmente petróleo), matérias-primas (notadamente insumos industriais básicos) e certos segmentos de bens de capitais. O instrumento básico foi o BNDE (hoje BNDES), com recursos do PIS/Pasep.

Em 1977, quando o crescimento foi de 5%, a Fundação Getulio Vargas afirmou que o Brasil estava em recessão de crescimento (continuava crescendo, mas para a época a taxas baixas). Como resultado do II PND, em 1984 o país apresentou um superavit comercial de US$ 13 bilhões, após haver tido, em 1974, um deficit de US$ 4,7 bilhões.

Veio a seguir "a geração que nunca viu o país crescer (em termos de renda per capita)" --anos 80 e 90. E a tentativa de restauração do crescimento, no período Lula. Atualmente... é o que se sabe. Se queremos voltar a crescer a 5% ao ano, precisamos de uma estratégia.

Para o Fórum Nacional, associação de pensadores sobre o Brasil, a estratégia é aproveitar as oportunidades em tecnologias do futuro, setores intensivos em recursos naturais, desenvolvimento social, "indústrias criativas" (cultura), desenvolvimento ambiental ("PIB verde").

Mas é bom salientar que, para efeito de realização de eleições, o regime militar deveria ter terminado em 1966.

JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO, 82, é presidente do Fórum Nacional, associação de cientistas políticos, sociólogos e economistas. Foi ministro do Planejamento (gestões Médici e Geisel - 1969 a 1979)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Tarefa 2 do Projeto Wikipédia: colaborar com verbetes já existentes sobre a ditadura

Por favor, faça o login com seu nome de usuário, antes de editar qualquer coisa na Wikipédia para nosso curso. Seu nome de usuário e sua página de contribuições têm de estar salvos nos documentos disponíveis aqui, de acordo com sua turma. Evite criar nomes de usuário que sejam parecidos demais com seu nome real.

Feito o preâmbulo -- esteja logad@! --, vamos seguir com nosso Projeto Wikipédia. Quatro instruções antes de passar a tarefa:
1- Esteja logad@! É só quando você está com sua autenticação feita que consigo identificar sua contribuição.
2- Leia o material de introdução à Wikipédia, disponível aqui.
3- Treine um pouco na sua página de testes, disponível para usuários logados. Editar na Wikipédia pode ser difícil.
4- A realização dessa tarefa equivale a no máximo um ponto dos 7,5 pontos totais que serão dados ao Projeto Wikipédia no segundo bimestre. Receberá um ponto quem tiver feito esse trabalho até 30 de abril. Receberá 0,5 ponto quem tiver feito esse trabalho entre 1o e 15 de maio. Não pontuará quem não fizer o trabalho ou o fizer após o prazo estipulado. A nota do segundo bimestre é dividida em 7,5 para o Projeto Wikipédia e 2,5 para uma prova final.

A Tarefa 2 da Wikipédia é completar ou revisar o português e a escrita de pelo menos um verbete da lista abaixo. Você só precisa fazer uma contribuição, mas está convidado a fazer quantas quiser. Quando digo completar, o que está especialmente em foco é ou colocar uma referência que falta ou inserir uma informação que lhe parece faltar desde que esteja com referência. Correções de português dependem de sua leitura minuciosa do verbete e revisões no estilo e na objetividade das informações que estão colocadas; isso exige que você tenha uma boa compreensão do estilo enciclopédico da Wikipédia. Faça isso logad@!

Para completar informações nos verbetes, faça uma pesquisa, se for o caso, e sempre cite fontes confiáveis, que possa verificar. Fique atento a eventuais revisões a suas correções feitas por outros usuários.

Exemplo de indicação do que falta ser completado em verbete da Wikipédia. Esse tipo de indicação costuma aparecer no topo do verbete, mas outras indicações podem aparecer ao longo do texto. Fonte: Wikipédia.

Você precisa selecionar um dos verbetes abaixo e completá-lo ou revisá-lo. Você notará que, nos próprios verbetes escolhidos, muitas vezes há indicações do que falta ser completado. Essas indicações podem aparecer no topo do verbete ou ao longo do texto, especialmente no caso de referências que faltam. A imagem acima traz um exemplo. Há também sugestões de edições e revisões a serem feitas nas páginas de discussão de cada verbete. Esteja logad@!

Comissão Nacional da VerdadeJosé Maria Marin, ARENA, MDBDOPS, Grupo Tortura Nunca Mais, João Goulart, Leonel Brizola, Escola Superior de Guerra, Democracia Corintiana, Maria Rita Kehl, Movimento (jornal), Opinião (jornal), Pasquim (jornal), Fernando Gasparian, regime militar no Brasil, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, FigueiredoAto Institucional Número UmAto Institucional Número DoisAto Institucional Número TrêsAto Institucional Número QuatroAto Institucional Número CincoMilagre econômico brasileiro, Anos de chumbo, Atentado do Rio Centro, Pacote de Abril, Guerrilha do Caparaó, Revolta dos Perdidos, SNIGolbery do Couto e Silva, Henfil, Guerrilheiros do Araguaia, ditadura militar, Lei Falcão, Luta armada de esquerda, ALN, MR-8VAR-Palmares, Ligas CamponesasComando de Caça aos ComunistasBatalha da Maria Antônia...

Os verbetes acima são sugestões. Se tiver algum verbete sobre a temática da ditadura militar no Brasil que você gostaria de completar, por favor, envie sua sugestão para eu avaliá-la e, se for o caso, incluir sua sugestão na lista. Lembrando, meu email é: japeschanski_at_casperlibero.edu.br

sábado, 12 de abril de 2014

Entrevista de John Nash, em visita ao Brasil, em 2010

Segue link de vídeo de entrevista de John Nash, um dos pioneiros da teoria da escolha racional, em evento realizado em São Paulo, em 2010. Esse evento, aliás, reuniu vários cientistas sociais importantes para justamente discutir a relevância da teoria dos jogos para a análise econômica e política. Até por ser uma personalidade interessante -- não se esqueçam que Nash é a pessoa representada no filme "Uma mente brilhante" --, vale conferir a entrevista.

http://www.fea.usp.br/videos_view.php?id=115&t=3

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Slides da aula de 9 de abril

Aqui estão os slides da aula de 9 de abril, em que fizemos a revisão do bimestre e discutimos vertentes clássicas (Marx e Engels) e atual (Wright) de alternativa ao capitalismo. Provavelmente, voltaremos à discussão de alternativas ao mundo como ele é muitas vezes no decorrer do ano.

Por favor, avisem-me por email: japeschanski_at_casperlibero.edu.br , se estiverem com problema para ver esse ou outro documento colocado no blog.

Na semana que vem temos prova. Entrem em contato até sexta, dia 11 de abril, para resolver dúvidas e conversar comigo por correio eletrônico.

Bons estudos!

terça-feira, 8 de abril de 2014

3JOA e 3JOB -- prova na segunda-feira, dia 14!

A prova bimestral para as turmas 3JOA e 3JOB será na segunda-feira, dia 14, de manhã.

Vocês provavelmente devem ter recebido um email com essa informação. Mas, por favor, avisem seus colegas.

A prova para as turmas do noturno ocorre normalmente, na quarta-feira, dia 16.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A ditadura civil-militar na perspectiva de gênero e de LGBT

A programação especial sobre a ditadura civil-militar na Cásper Líbero foi um grande sucesso e, especificamente, recomendo a tod@s que assistam ao debate que ocorreu no dia 4, de manhã, sobre "Resistência LGBT e feminista na ditadura". O debate está disponível aqui -- recomendo saltar diretamente para a primeira hora da filmagem.
O que há de interessante nesse debate é a intersecção que as debatedoras salientam: o encontro entre as reivindicações por democratização e contra a dominação masculina, as conexões nas militâncias contra o estado de exceção e a defesa dos direitos LGBT. Essa intersecção se explica em parte pela busca de uma nova identidade, que se completava em diferentes frentes de luta. Também a repressão, entendo, se tornou uma ferramenta de violência contra os militantes da democratização e de impedimento das outras transformações sociais e culturais, que emergiam. Há alguma discussão sobre como essas lutas consideradas "específicas" -- se virmos a luta em prol da democracia como a luta "geral" -- geravam dilemas próprios a quem participava delas, já que tinham de manter o coro da luta "geral" e colocar sua perspectiva "específica" em evidência.


Para não dizer que não falei de ideologia...

Numa das turmas, na aula de 26 de março, ingressamos numa animada discussão sobre os mecanismos ideológicos que garantem a continuidade do capitalismo apesar das tensões inerentes a esse modo de organizar a economia. Ideologia é um conceito-chave, mas também errático. Chave, porque tem nos seus termos a capacidade de identificar formas de aceitação daquilo que parece não ser do interesse das pessoas -- disse em aula que a ideologia determina aquilo que vemos como o existente, o possível e o desejável. Errático, porque tem nos nossos termos a capacidade de identificar tudo aquilo que não sabemos analisar. Algo acontece que foge da teoria, como uma atitude de um grupo que vai contra os interesses materiais do próprio grupo que age, digo que tudo se deu por ideologia. Ou seja, digo algo para ocultar que não sei como expressar aquilo que está acontecendo. É o que chamamos de conceito passe-partout, aquele que mobilizamos para evitar lacunas na argumentação, mas que no fim das contas pouco acrescentam.

Mas há teorias sofisticadas de ideologia. Recomendo especialmente o trabalho do sociólogo sueco Göran Therborn, um autor sofisticado, do qual podem ler um texto aqui (o primeiro capítulo de seu A ideologia do poder ou o poder da ideologia, um livro muito importante, por sinal). Influenciado pelo pensamento de Louis Althusser, A ideologia do poder… é um marco no debate sobre ideologia. Copio abaixo um pequeno ensaio que escrevi na ocasião de uma vinda desse autor ao Brasil, em 2012:

A noção de ideologia é fundamental na tradição marxista. Teoricamente, é um dos principais mecanismos da teoria de reprodução social, estabelecendo como sistemas de relações sociais opressoras se sustentam de maneira estável. Marxistas desenvolveram teorias da ideologia para responder questões como: por que os trabalhadores não se revoltam continuamente contra a exploração e a dominação no capitalismo? A revolta permanente de trabalhadores levaria provavelmente ao colapso do capitalismo, incapaz de manter-se estável. Pode-se tomar essa questão específica por diferentes ângulos — os problemas da ação coletiva, as contingências históricas, as dinâmicas dos compromissos de classe, a ameaça do desemprego –, mas a ideologia permanece um elemento-chave para qualquer resposta. Esta serve para explicar por que os trabalhadores aceitam sua exploração; não é suficiente dizer que os trabalhadores são sempre coagidos a trabalhar.

Na teoria clássica, remontando a Marx e Engels, define-se ideologia como falsa consciência. Por mais que Marx nunca tenha usado a expressão exata, empregada por Engels numa carta de 1893, a ideia de falsa consciência é consistente com sua análise de mistificação em A ideologia alemã e fetichismo da mercadoria em O capital. Lenin também fundamentou sua análise de ideologia na ideia de falsa consciência; apesar de apresentar modificações importantes em relação ao argumento clássico original, Lukács desenvolveu sua teoria de ideologia nos parâmetros da noção de falsa consciência. De modo geral, nessa visão a ideologia é um conjunto de mecanismos e processos que impede os explorados e oprimidos de entender e reconhecer sua exploração e opressão. Uma variação dessa definição, importante no debate dos anos 1970, é que não só os explorados e oprimidos não entendem e reconhecem sua exploração e opressão (função negativa da ideologia, de ocultar e obscurecer), mas as justificam e perpetuam, assim pressupondo um envolvimento ativo e criativo dos explorados e oprimidos (função positiva da ideologia, de fortalecer e alimentar o sistema de exploração e opressão). Não cabe nesse ensaio curto esmiuçar a distinção entre as duas funções de ideologia como falsa consciência.

Marx e seguidores apontam algumas dimensões da “falsidade” da consciência, geralmente atreladas a dinâmicas psicológicas. Primeiramente, corresponde à falta de compreensão das pessoas em relação às forças fundamentais que as impelem a pensar e agir, ou seja, falsa consciência corresponde a ignorar influências causais. Em segundo, diz respeito a pensamentos ilusórios: o que as pessoas imaginam e lhes parece real não o é. Em terceiro, relaciona-se com o modo como as pessoas interpretam os motivos e fontes de seus pensamentos com idealismo; como toda ação é mediada pelo pensamento, aparece-lhes como se fosse fundamentada no pensamento. No capitalismo, assume-se então que os trabalhadores representam falsamente as relações sociais dominantes, isto é, o que veem é uma representação distorcida da realidade social. Vale notar que representações distorcidas não são alucinações, têm base em experiências vividas. Exemplo dessas dimensões da falsidade em operação é o fetichismo da mercadoria, analisado por Marx no fim do primeiro capítulo do primeiro volume de O capital. Nesse trecho, Marx afirma que as mercadorias parecem ter um poder próprio, autônomo em relação ao produtor. Assim, por mais que as mercadorias adquiram valor por meio do trabalho social, como diz Marx, parecem ter valor no momento de sua troca, fora da esfera da produção.

Na introdução de A ideologia do poder…, Therborn rompe com a teoria clássica de ideologia. Diz, nas páginas 4 e 5 (tradução livre): “Rompo [com essa visão de ideologia] porque está vinculada a uma visão das motivações humanas que me parece insustentável. [...] Fundamentalmente, tomam a ‘superestrutura’ das formas de consciência como epifenômenos. O comportamento humano estava determinado por ‘interesses’, interesses de classe. Os tipos de consciência ou correspondiam a esses ‘interesses’, como consciência ‘verdadeira’, ou não correspondiam, e nesse caso se tornavam ilusões e por isso ineficazes (pelo menos no longo prazo). Essa visão tem seu exemplo em como Marx trata a ideologia burguesa e proletária; está na crença arraigada que a classe trabalhadora viria a desenvolver uma consciência verdadeira de seus interesses de classe, apesar das aparências distorcidas nas relações capitalistas de produção, apesar da ‘reificação’, ‘fetichismo da mercadoria’ e a exploração ‘assalariada’”. A crítica de Therborn sugere que a teoria clássica pressupõe uma realidade verdadeira, cognoscível por meio da ciência materialista histórica, o que é inaceitável do ponto de vista materialista histórico. Apesar de pouco materialista, a pressuposição teve implicações profundas na tradição marxista; basta pensar em alguns textos de Lenin em que caracteriza o quadro político como a pessoa a desenvolver uma ideologia científica e, assim, orientar as lutas dos trabalhadores, presos a suas mistificações, contra as supostas bases reais e verdadeiras de sua opressão e exploração. Outra deficiência da teoria clássica é que se fundamenta numa explicação funcionalista, ou seja, essa teoria afirma que a ideologia dominante é aquela que estabiliza da melhor forma possível o sistema de relações dominante. Para fugir do raciocínio funcionalista, é preciso propor em mecanismos que alimentem a falsa consciência que sejam funcionais para a estabilidade do capitalismo. Não parece haver tais mecanismos e, se houver, não há teoria dos mecanismos que previnem a mistificação.

Therborn oferece uma definição original de ideologia, fundamentada na interpelação dos seres humanos como sujeitos, em referência à noção cunhada por Althusser: “a operação da ideologia na vida humana envolve a constituição e a padronização de como os seres humanos vivem suas vidas como iniciadores conscientes e reflexivos de atos dentro de um mundo estruturado e com sentido” (p. 15). A constituição e a padronização se referem à interpelação, um processo duplo segundo Therborn que sujeita e qualifica as subjetividades. A sujeição e a qualificação não estão necessariamente em correspondência — uma das diferenças centrais entre sua teoria e a de Althusser — e se definem, respectivamente, como a formação da individualidade e a inserção em relações sociais. As ideologias sujeitam e qualificam as pessoas ao dizer-lhes e fazer-lhes reconhecer o que existe, o que é bom e o que é possível. Toda ideologia resulta de práticas discursivas e não discursivas sistemáticas de afirmação e sanção: quando alguém age de acordo com as normas enunciadas por tal ideologia, espera chegar a um resultado; quando não age de acordo com as normas, é punido.

Na visão de Therborn, diferentes ideologias coexistem e se emaranham. “A determinação da relação entre dadas ideologias é de dominação e subordinação, crescimento relativo, reforço, marginalização e declínio. A matriz material [de afirmação e sanção das ideologias] não opera como um ménage à trois envolvendo os homens, a ideologia e a realidade, mas como um determinante na competição e choque entre diferentes ideologias, entre diferentes interpretações da realidade ou diferentes interpelações em relação ao que existe, o que é bom e o que é possível” (p. 34). Torna-se portanto central para o materialismo histórico entender as bases da preponderância de uma ideologia sobre outras, considerando que as ideologias existem como formas históricas, em articulação com outras ideologias, classes e ideologias de classe (ao especificar ideologias de classe como parte de um leque de várias ideologias, Therborn adota uma noção abrangente de ideologia, que abarca subjetividades que não são fundamentadas em classes).

A teoria relacional de Therborn oferece então uma visão própria da geração de ideologias e de transformação social. Num processo histórico, ao mesmo tempo de continuidade, já que toda nova ideologia se funda sobre uma ideologia superada, e discontinuidade, já que em mudanças fundamentais quebra-se a totalidade social, a transformação social depende de um ou mais desses fatores: mudanças estruturais no modo de produção, a produção de novas matrizes de sanção e qualificação a partir da luta de classes e contradições sem solução entre interpelações diferentes. No livro, Therborn oferece exemplos desses processos históricos, ao analisar a formação e reprodução ideológica no feudalismo e capitalismo — cada qual com componentes de sanção e qualificação próprios e em interação –, que não abordo aqui.

Therborn apresenta um quadro absolutamente original de ideologia, fora da tradição clássica, presa a uma noção quase autoritária de verdade, e busca determinantes institucionais para entender a estabilidade de ordens sociais. Sua análise é histórica, dinâmica e relacional — na linha da metodologia marxista, apresentada de modo clássico na Introdução dos Grundrisse, refutando a própria resposta de Marx à questão.

domingo, 6 de abril de 2014

O cooperativismo no capitalismo: matéria no New York Times

Saiu um texto de opinião no New York Times, de autoria de Jeremy Rifkin, sobre o aumento da produção e a intensificação das atitudes cooperativas nos EUA, ou seja, a maior participação de atividades econômicas não-capitalistas dentro do capitalismo. O título da matéria é relativamente enganoso, na medida em que uma atividade econômica não ser capitalista não quer dizer que ela seja contrária ao capitalismo, pelo contrário, pode muitas vezes ser funcional à reprodução do capitalismo.
Recomendo a leitura do texto, disponível aqui. Foi um dos mais acessados da semana passada do jornal.
Abaixo copio um trecho, que me pareceu especificamente revelador:


People can connect to the network and use big data, analytics and algorithms to accelerate efficiency and lower the marginal cost of producing and sharing a wide range of products and services to near zero, just as they now do with information goods. For example, 37 million buildings in the United States have been equipped with meters and sensors connected to the Internet of Things, providing real-time information on the usage and changing price of electricity on the transmission grid. This will eventually allow households and businesses that are generating and storing green electricity on-site from their solar and wind installations to program software to take them off the electricity grid when the price spikes so they can power their facilities with their own green electricity and share surplus with neighbors at near zero marginal cost.


Pode-se dizer que, numa linha de pensamento que remete diretamente a uma visão marxista ortodoxa, o desenvolvimento tecnológica tem um impacto decisivo na mudança das relações de produção.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Slides da aula de 2 de abril

Aqui estão os slides da aula de 2 de abril, em que abordamos a questão das classes sociais. 

Por favor, avisem-me por email: japeschanski_at_casperlibero.edu.br , se estiverem com problema para ver esse ou outro documento colocado no blog.

Até a semana que vem!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Leituras para 9 de abril

As duas leituras para a aula de 9 de abril dizem respeito à organização de configurações institucionais alternativas. A leitura clássica, a seção "Proletários e comunistas", em Manifesto Comunista, coloca a visão clássica sobre o socialismo. Basicamente, pode-se dizer que, enquanto Marx e Engels fizeram um diagnóstico muito específico do modo de funcionamento do capitalismo, abriram mão de uma análise mais detalhada da alternativa. O que importava mais em sua perspectiva era identificar as potencialidades da classe trabalhadora que segundo eles levaria ao desmantelamento do capitalismo e como se daria a articulação entre trabalhadores e organizadores políticos, os comunistas. A leitura de Erik Olin Wright é diferente. Ele diagnostica a existência de relações de poder e de troca econômica não capitalistas no capitalismo e sugere que a alternativa "socialista" ao capitalismo depende em parte do empoderamento desses nichos alternativos dentro do capitalismo. Coloco o termo "socialismo" entre aspas, pois Wright tem uma definição própria do conceito, que tem marcadas diferenças com a noção clássica, que encontramos em Marx e Engels.

-- a seção "Proletários e comunistas", de Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels;
-- "Alternativas dentro e além do capitalismo: rumo a um socialismo social", de Erik Olin Wright, publicado na revista Teoria & Pesquisa e disponível aqui.


O sociólogo Erik Olin Wright em conferência na Alemanha. Fonte: Fundação Rosa Luxemburgo


Em relação ao texto do Marx e do Engels, copio aquilo que disse na primeira vez que lemos texto desses autores.

A edição sugerida do Manifesto Comunista é a da Boitempo Editorial, organizada por Osvaldo Coggiola e traduzida por Álvaro Pina, originalmente publicada em 1998, com várias reimpressões. O livro pode ser adquirido aqui. O Manifesto Comunista é um livro clássico, de fundamental importância na tradição intelectual ocidental, e recomendo a compra da edição da Boitempo Editorial por ser uma versão cuidadosa e trazer textos de apoio úteis.

Para aqueles que preferirem não comprar o livro, há várias versões on-line em português, cuja qualidade não é garantida. Abaixo, três dessas versões.

http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf
http://www.pstu.org.br/sites/default/files/biblioteca/marx_engels_manifesto.pdf
http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/


Ferramentas de introdução à Wikipedia

Seguem abaixo algumas ferramentas de auxílio à edição à Wikipedia, cuja leitura recomendo vivamente. Em duas semanas, indicarei as primeiras tarefas do nosso projeto (que valerão nota para o segundo bimestre) e certamente a leitura desse material ajudará a fazer mais rápido essas tarefas e a diminuir os custos de aprendizado a contribuições mais eficientes à enciclopédia.

Os cinco pilares da Wikipédia
Tutorial

Como editar uma página e Como melhorar um artigo
Como criar o seu primeiro artigo
Livro de estilo

Aproveito para sugerir que cada um de vocês insira dados na sua página de usuário, especialmente seu vínculo com o Projeto Wikipédia da Faculdade Cásper Líbero, sob a orientação do Programa Catalisador da Wikipédia do Brasil, mas também outras informações que acharem relevantes. Esse tipo de informação permite diferenciar os usuários que de fato querem contribuir -- fazendo com que editores mais experientes adotem uma postura mais simpática, quando cometerem erros -- daqueles que simplesmente querem "vandalizar" a enciclopédia.

Esta aqui é minha página de usuário, ainda bastante incompleta, mas já dando um contexto para nosso trabalho: https://pt.wikipedia.org/wiki/Usuário(a):Joalpe




A experiência da memória: breve comentário sobre lembrar em público da ditadura

Cinquenta anos do golpe civil-militar! Nesta semana, há milhares de opiniões sendo expostas sobre os detalhes, os impactos, as causas, os crimes da ditadura. Tanta informação e tantas opiniões exigem uma grande capacidade de decodificação e processamento. Fala-se muito na necessidade de lembrar, na memória do que houve, mas o fato é que há pouca compreensão de fato sobre o que é a "lembrança pública", isto é, em que medida algo que aconteceu no passado de fato influencia ou pode influenciar o comportamento público.
Por um lado, é preciso saber para que serve "instrumentalmente" lembrar da ditadura para atuar na democracia de hoje. Em seu artigo de hoje na Folha de S.Paulo, "A ditadura venceu", o filósofo Vladimir Safatle diz que não há exercício de memória pública possível quando não houve efetivamente transição de políticos. Mudou o regime político, em algum sentido, e ficaram os políticos. Não conseguimos pôr em ação a memória para atuar na democracia, porque não temos ainda que fazer o exercício de memória, temos de romper com o nexo com o regime de exceção oculto. Por outro lado, não consigo lembrar da ditadura de antanho, pois vivo a mesma ditadura, em silêncio, parece dizer-me o filósofo. A estratégia da memória confunde-se portanto na da democratização, do aprofundamento democrático. Assim, o exercício de memória pode ser inócuo se tento diferenciar a sociedade brasileira de hoje com a de um passado pior, ruim, nefasto, pois o que vivemos hoje, se de fato há a continuidade exposta por Safatle, é o pior, o ruim, o nefasto. Assim, a memória serve para reconhecer a regularidade, não como um exercício para impor uma barreira entre aquilo que vivo e aquilo que vivi, pois, diz Safatle, o passado e o presente são equivalentes. Também vai nessa linha o artigo do filósofo Edson Teles, na Agência Carta Maior, do qual reproduzo trecho:

Coloca-se em ação a memória vencedora da transição, representante de um consenso ficcional, construído sob o silêncio do pacto pela redemocratização em oposição aos corpos desaparecidos, assassinados e torturados. Replica-se a ideia dos dois demônios, em democracia, com a leitura de ainda ocorrer um conflito entre a memória das vítimas, revanchista e que tudo quer lembrar, e a dos militares, violenta e adepta do esquecimento da violência do Estado. Ora mobilizando um aspecto, o da lembrança, ora outro, o do esquecimento, se constrói o silêncio sobre o passado, com a ausência de escuta dos movimentos sociais. [...]

Passados 50 anos do golpe militar de 1964 temos uma lógica de governo que aposta na política do possível expressa, no caso das ações de memória acerca da ditadura, pelo bloqueio dos atos de justiça e de efetiva democratização do Estado e de suas instituições. Por outro lado, para os movimentos sociais, o que não deveria ser possível em uma democracia é a impunidade da tortura sob o argumento de que a anistia, aprovada em 1979 e renovada na Constituição de 1988, seria fruto da “reconciliação nacional”, como o fez o Supremo Tribunal Federal em maio de 2010.
 
Por mais estranha que pareça a afirmação de que vivemos uma continuidade entre ditadura e democracia, faz todo sentido os discursos dos movimentos sociais que apontam nesta direção.
 
Não se trata aqui de estabelecer uma indistinção entre democracia e ditadura. Nem mesmo de negar ou desprezar os tímidos avanços conquistados – como são os casos das comissões de indenizações e a da Verdade. Ao contrário, trata-se de termos pleno conhecimento de que sob a superfície do discurso de uma governabilidade consolidada e exemplar, encontramos formas de agir cuja astúcia é serem autoritárias sob um viés democrático.


Uma segunda consideração analítica diz respeito à capacidade esperada de que a memória, o compartilhamento efetivo do passado, vá ter algum impacto sobre o presente. Está clara essa questão numa faixa estendida em protesto a um professor de Direito da USP aparentemente fazendo uma fala em sala de aula a favor da ditadura em que se lê: "Lembrar é resistir". É um passo além do uso instrumental da memória. Trata-se de lembrar como parte de um projeto político mais amplo, não apenas de ruptura, mas de proposta. Se a democracia não é efetiva, e é preciso resistir, também é necessário estabelecer um exercício de ir-além. A efeméride dos cinquenta anos do golpe, numa noção de politização da memória, deve vir acompanhada da noção de "outros cinquenta". O tipo de sociedade que se constituiu desde 1964 não é suficientemente bom e devemos apresentar-lhe uma alternativa. Para chegar a essa alternativa é preciso saber reconhecer quem é quem no sistema político atual em relação a sua efetiva participação ou apoio velado à ditadura do passado-presente.
Uma última consideração diz respeito ao tipo de memória política a ser feito. No geral, pelo que li, houve um grande esforço de relatar com detalhe naturalista o que se viveu no passado. É um esforço relevante e especialmente pertinente na medida em que muitas personalidades que tiveram impacto nesse processo estão vivas. Ver por exemplo o impressionante trabalho feito pela Agência Pública. Há outro esforço que me parece menos desenvolvido em torno de encontrar a medida com que esse tipo de regime de exceção torna-se compatível, até com relativa facilidade, com o modo de organizar a economia capitalista, pelo menos no modelo tático de acumulação, da década de 1960 e hoje. Há uma instigante entrevista com o economista Fábio Antonio de Campos, que recomendo. Cito trecho abaixo:

A economia é fundamental para entender o alcance e os limites da ditadura como instrumento do capitalismo brasileiro. A ditadura serviu para garantir a expansão do desenvolvimento capitalista brasileiro definido a partir de JK, ou seja, a industrialização pesada dinamizada pelo capital internacional em proveito dos diferenciais do mercado interno, estabelecidos pela elevada concentração de renda que garantia a valorização à custa da superexploração do trabalho. À medida que se avançava na industrialização intensificando a dependência externa e o subdesenvolvimento, os limites estruturais que se impunham (financiamento e liberalização cambial), exigiam reformas institucionais que aperfeiçoassem o modelo econômico funcional ao complexo multinacional.
Golpe de 1964 e a ditadura tiveram essa função, ou seja, viabilizar um tipo de indústria que recolocava nossos dilemas de formação histórica numa situação ainda mais dramática. Os problemas que surgem desse período, como desaceleração do crescimento, redução na taxa de investimento, aumento da desigualdade, desemprego e estatização da dívida externa só podem ser compreendidos dentro da “contrarrevolução brasileira”. Na essência, ela significou o divórcio dos meios estruturais que tinham, na utopia de desenvolvimento nacional, os fins. O antagonismo que se abriu nos anos 1950, acirrando em forma de inúmeros conflitos e lutas na segunda metade dos anos 1960, foi enfrentado com uma rota desenvolvimentista antinacional, antidemocrática e antissocial.
Enquanto a ditadura serviu para viabilizar os interesses do complexo multinacional, que, aliás, tinham na industrialização seu eixo de valorização capitalista, ela cumpriu seu papel, mas quando a própria articulação imperialista entre a economia brasileira e o padrão mundial de acumulação teve que ser realinhada em favor do capital internacional, ela perdeu sua função.

A entrevista estabelece uma conexão efetiva entre o regime de exceção e a lógica da acumulação de capital no processo de modernização conservadora. A intuição é partilhada -- a ditadura era efetivamente propícia ao tipo de reforma liberalizante extremada que estava em germe --, mas o que o economista coloca é uma análise mais sistêmica de mecanismos que identificam a conexão e verificam a intuição. Em paralelo ao detalhamento necessário do que de fato há para ser lembrado, aqui está um exercício de investigação em nível mais elevado de abstração, que parece dar sentido geral aos casos chocantes que vêm cada vez mais à tona do passado e que são os casos de nosso dia-a-dia.