Abaixo trechos do script da aula, que podem ser úteis para a revisão do argumento:
Todo gênero é por definição não
natural. O que a Simone de Beauvoir diz é que nossa anatomia não
determina nossa identidade.
O gênero é o significado e a forma
cultural que o corpo, o sexo adquire, num processo variável de
aculturamento do corpo, do sexo.
Sem dúvida, a mulher é, como o
homem, um ser humano. Mas tal afirmação é abstrata; o fato é que
todo ser humano concreto sempre se situa de um modo singular. Recusar
as noções de eterno feminino, alma negra, caráter judeu, não é
negar que haja hoje judeus, negros e mulheres; a negação não
representa para os interessados uma libertação e sim uma fuga
inautêntica. É claro que nenhuma mulher pode pretender sem má-fé
situar-se além de seu sexo. Uma escritora conhecida recusou-se a
deixar que saísse seu retrato numa série de fotografias consagradas
precisamente às mulheres escritoras: queria ser incluída entre os
homens, mas para obter esse privilégio utilizou a influência do
marido. As mulheres que afirmam que são homens não dispensam,
contudo, as delicadezas e as homenagens masculinas. – p. 8
Há implicações diretas sobre como
nós nos entendemos. Se ser uma mulher é uma entre várias
interpretações possíveis de ser fêmea, e se essa interpretação
não decorre necessariamente do ser fêmea, então é arbitrário
imaginarmos que o corpo da fêmea é sempre o local em que se
desenvolve a mulher. Todo tipo de anatomia é possível com todo tipo
de generização.
Há outra implicação interessante na
definição de que nos tornamos mulheres. Em que medida
conscientemente nos tornamos de tal ou tal gênero? Em que medida
estamos socialmente determinados a adotar tal ou tal gênero? Escolho
se sou homem ou mulher ou outra coisa? Ou isso é imposto sobre mim?
Beauvoir parece dizer que escolhemos nossos gêneros, mas dentro de
limitações que nos são impostas. Escolhemos de acordo com os
estilos e repertórios disponíveis.
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